sábado, maio 30, 2009

Dos Anjos, O Augusto Metafísico


Sim, o brasileiro tem anjo da guarda, e ai se não tivesse. A pesquisa diz, no jornal, que 90% acreditam ter, como têm fé em Deus. Tem gente que garante conhecer o próprio anjo, e não falta quem diga já tê-lo visto. Não vi o meu ainda, talvez pelo peso colossal de meus pecados.

As testemunhas de vista garantem que o anjo é igual a um homem de carne e osso, homem bonito, forte, mas com uma luz que o nimba de espiritualidade. Esqueceram de falar nas asas. Se têm, se não têm. Se têm, andam sempre elegantemente recolhidas.

O brasileiro pode ser pobre, feio e doente. Pode até gostar de políticos. Digo mais: pode até gostar de Lula. O mundo é assim mesmo. A coruja acha os filhos dela lindos. Rico, pobre, negro, branco, todos têm direito a seu anjo exclusivo. Sozinho, o brasileiro estaria pessimamente acompanhado hoje em dia. Só pensaria em caraminholas.

O ano da guarda não só faz companhia e conforta, como assiste e aconselha. Diz o povo que o anjo vai embora, se você dorme pelado. Se dorme com sede, o pobre anjo morre afogado, ao tentar beber a água. Pode se afastar por um momento, entrar na política, e lá vai nossa segurança.

Feliz foi Augusto, o poeta, que era dos Anjos, como o romancista Ciro, tão diferente de seu homônimo, lírico, introspectivo, delicado vaievém de sentimentos entre a ternura e o humour. A obra do paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) é estranha, mórbida, escandalizante (ou chegada à escandalização, como diz Dilma Rusself, DD. Chefe da Casa Civil), com uma angústia metafísica cheia de grandeza, apesar dos temas abraçados a doenças, micróbios, a morte, cemitérios, cadáveres, repletos de termos técnicos e científicos, principalmente focalizando medicina e anatomia.

Não sei como poderia ter sido o anjo da guarda do grande poeta que se define assim: “Eu sou aquele que ficou sozinho, / Cantando sobre os ossos do caminho / A poesia de tudo quanto é morto.”


PERISCÓPIO

1. Queiram ou não, o abc do jornalismo continua o mesmo, e há de continuar o mesmo – quem-o que-quando-onde-porque. O fino trivial é bem servido seguindo-se essa regrinha simples. É o que a maioria das pessoas quer. Notícias, escritas de maneira clara, com descrição específica do que possa interessar. Jornalismo cultural é outra coisa. Requer expertise.

2. O político não tem o privilégio do artista, que pode ser um canalha em particular, se sua obra o redimir. Hoje se estuda a obra de Marquês de Sade com a mesma isenção moral com que estuda a obra de Santo Agostinho, que nem sempre foi santo.

3. As grandes lendas se fazem com o tempo. Não dou uma geração para Lula se transformar num herói legendário, e sua passagem pelo governo numa narrativa épica.

4. Rola na Internet esta frase de Eça de Queiroz, escrita há mais de 100 anos: “Os políticos e as fraldas deviam ser trocados freqüentemente e pela mesma razão.”

5. Confesso gostar humildemente de dinheiro. Não sei é como encontrá-lo em quantias satisfatórias. Somando tudo o que ganho, inclusive o que o governo me assalta, o dinheiro dá para eu viver magnificamente uma semana.

6. O brasileiro médio, hoje, se levantasse a pata para fazer pipi, fatalmente cairia para um lado e faria pipi em si mesmo.

7. O PT insiste em dizer que tem um programa operário. Bulhufas. No máximo, tem um programa de radicais da classe média que imaginam representar a classe operária, e não operários, porque estes mesmos querem é se integrar à sociedade de consumo, ter empregos e boa vida. Socialismo, nem pensar.


8. Uma vez chamaram Ruy de ladrão porque suas cadeiras, em casa, tinham as iniciais RB – República Brasileira. No entanto, significavam apenas Ruy Barbosa (sempre com Y, por exigência da família e dos baianos), cuja casa visitei muitas vezes, na Rua São Clemente, em Botafogo. Ia ver os livros, os móveis e sentir o bafo de uma das maiores inteligências do Brasil.



9. Levando em conta o que ouço, anoto e me informam, desconfio que Lula vai continuar presidente. Sua reeleição está a caminho e sem pedras . Serra é um trovão distante.

10. No Brasil, quando se trata de corrupção, nossos esforços são inúteis, o purgante não faz efeito, o susto não educa e os gatos escaldados correm todos para a panela.



sábado, maio 16, 2009

Os Políticos e a Honestidade


Não há um só dia em que certos políticos não estejam na crônica policial dos jornais, acusados de corrupção, processados, cassados, presos etc. e etc. É uma rotina espantosa. Aprendi, por isso mesmo, a não gostar daqueles que vivem a se apregoar honesto, como se a honestidade fosse um trunfo, uma vitória de vida.


É verdade que num país como o nosso, ser honesto vale alguma coisa como virtude moral e cívica. Um país cujos homens públicos são quase sempre desonestos – há exceções mui honrosas – acaba gerando esse tipo de vanglória e paga um tributo imenso à insaciável rapinagem da classe. Quando se instalam na administração pública, é um deus-nos-acuda. Só se sabe aonde esses canais conduzem, quando se observa o aparecimento de enormes fortunas feitas num único período administrativo.


Os honestos passam então a ser considerados simplórios, que não sabem aproveitar oportunidades, até que lhes vem, como dizia Ruy (com ipsilone, para não zangar os baianos), a vergonha de ser honestos. Mas quando eu vejo certos políticos falar de caráter, dse austeridade, de moral, pavoneando-se de sua irrepreensível conduta, fico desconfiado que, o mais das vezes, estamos diante de um tartufo. Conheço bem a espécie. Ou penso que conheço.


Não sei como La Bruyère deixou de retratá-la em seu livro famoso. Afinal, a honestidade é a simples higiene do homem de bem. E quem toma banho não precisa dizer que não fede. Millôr, neste caso, fez um primor de resumo: “Honestidade: aquilo que nunca acreditamos que os outros tenham e os outros, por sua vez, não têm.” A verdade é que rouba-se tanto no Brasil que a solução – quem sabe, e eu estou dizendo isso pela milésima vez – talvez fosse a criação de um Ministério da Corrupção que centralizasse essa importante atividade e a regulamentasse.


Não faltariam eminentes corruptos que se prontificariam a assumi-lo, até sem receber nada. Só para ter o ponto.

PERISCÓPIO

1. Pensando bem, meus americanos favoritos ou são judeus ou meio-judeus ou são pretos e tocam algum instrumento. Prefiro o emocionalismo latino ao laconismo americano e acho o sangue-frio uma das piores qualidades humanas.


2. Não há copidesque no mercado – nem o do computador – que consiga tirar uma vírgula que seja de qualquer bula acompanhante da droga nacional.


3. Lula continua esfregando a mão, de júbilo, por conta de uma utopia chamada pré-sal. Equivalente ao sonho do famoso capitão de Moby Dick, a história da imensa e lendária baleia branca. É como emprestar dinheiro ao FMI e não emprestar um vintém ao Piauí.


4. Fico a pensar na vida que já vivi, nos companheiros mortos, nos amigos que me restam. Enquanto me pergunto se não perdi o melhor de mim mesmo nos sonhos que realizei.


5. Tenho a economia como uma ciência maldita. Trata do valor das coisas, uma abstração, como se fosse a coisa, o que é um pouco como retocar a radiografia, em vez de cuidar do doente.


6. De tanto fazerem o brasileiro de bobo, é assombroso que ele ainda não tenha feito uma bobagem. Taí um povo bom e paciente.


7. Que droga. Só me têm chegado notícias de que a morte anda ceifando agora a minha geração. Vou mudar de penteado, tirar a barba, para ver se ela não me reconhece.


8. Nas relações entre o escritor e o leitor, fico a refletir, hoje, quando o autor vende milhões de exemplares mundo afora. Bem diferente do tempo que José de Alencar e Manoel de Macedo mandavam vender seus livros por um preto de balaio no braço, como melancias e pirulitos.



9. Encerro a coluna ouvindo a canção “Pierrô”, de Joubert de Carvalho e Pascoal Carlos Magno, de 1932. Carlos Magno procurava uma canção inédita para a abertura de sua peça “Pierrô”, prestes a estrear. Além de romântica, a canção deveria explorar o belo timbre agudo de Jorge Fernandes, o cantor escolhido para interpretá-la. Tenho-a com Sílvio Caldas.




10. Todos esses requisitos foram preenchidos por Joubert de Carvalho, que compôs a tempo, sobre a letra de Pascoal, a canção dramática: “Arranca a máscara da face, Pierrô / Para sorrir do amor / que passou.” Sucesso no palco e no disco, a canção foi gravada até pela soprano Maria Lúcia Godoy, estourando nas décadas de 40 e 50. Joubert, que era médico, ficou mais famoso com “Maringá”.

sábado, maio 09, 2009

MEMÓRIAS, SÓ PARA VIDAS INCOMUNS


Que livros mais gosto de ler? Todo bom livro, mas a preferência é o livro de memórias. Os livros de memórias sempre ocuparam na minha vida e na minha estante espaço apreciável. Li-os na juventude e na mocidade, para conhecer a lição da vida dos outros, com a curiosidade atenta de quem recolhe uma confissão.


Li-os depois, e sobretudo hoje, para confrontar a vida alheia com a minha própria vida – desde que tragam em si a aventura da originalidade humana, ou a dimensão da obra literária. As memórias, por serem a voz de uma experiência existencial, são incompatíveis, por definição, com a juventude dos memorialistas: -- a recordação reclama espaço no tempo, quer para purificar-se, quer para se revestir de importância, na reconquista do tempo perdido.


À medida que vou vivendo, mais me convenço de que nada é mais ilusório que o presente – simples ponto de encontro entre o passado, que depende da memória, e o futuro, que reclama a nossa imaginação. Mesmo a palavra, quando está sendo escrita ou enunciada, converte-se em passado recente, no próprio instante de seu nascimento. Daí a frase feliz de Bergson, segundo a qual o presente nada mais seria do que a ponta extrema do passado. Ou a primeira ponta do futuro.


As vidas sofridas, como a de Rousseau, como a do maranhense Humberto de Campos, como a do recifense Nélson Rodrigues, (1912-1980), impõem-se, com mais vigor, à memória de quem padece. Daí a nitidez das evocações, nas Memórias de Humberto (1886-1934), o escritor mais lido de sua época, membro da ABL ainda bem jovem, 40 volumes publicados e nenhum traduzido para qualquer idioma, em contraste com a verdade e poesia das recordações de Goethe. Ou, para ficar mais perto, com as evocações do também recifense Joaquim Nabuco (1849-1910), em “Minha Formação”. Nestas, haverá mais poesia que verdade. Naquelas, mais verdade que poesia.


O passado, matéria-prima do historiador, também é o de homem de letras, como experiência vivida e acumulada – mesmo quando este se lança na ficção científica, inspirado na carga de experiência que a vida lhe proporcionou. Mas vejam bem: um livro de memórias tem de possuir grandeza literária, refletir uma vida incomum, um texto monumental, o espelho de uma época, divertido, pleno de absurdos. O próprio Machado dispensou suas memórias, e preferiu despistar com “Memorial de Aires”, seu último livro.


Para manter a situação que aí está, quase todos os nossos políticos são descartáveis, menos o principal homem do setor, o presidente da República. Dá muito trabalho arranjar outro pior. Deixa ele ficar. Nós o merecemos; 80% estamos com ele.


PERISCÓPIO

1. Tivemos o totalitarismo militar. Temos agora o totalitarismo da corrupção e da mediocridade. Há vítimas de um e de outro regime.

2. Dizia Eça de Queiroz que as crianças são os únicos seres divinos que a humanidade realmente conhece.

3. Nada me dá tão bem a idéia da vitalidade e da força quanto uma velha árvore, de sólido tronco, galhos espessos, e que refloresce pela primavera.

4. Embora ateu, acho que a salvação de minha alma, caso exista, por vezes me assusta, em razão de me parecer que a eternidade, como a concebemos, nada mais seria do que uma insônia sem fim.

5. Em Sobral, no auge do calor e mesmo na chuva, ali pelas duas da tarde, até a sombra se defende. Se põe debaixo dos nossos pés, bem protegida.

6. Sou dos que desejam ser queimados. Para me transformar em labaredas, depois de morto, já que o fogo é meu elemento natural enquanto vivo. Antes chama que lama.

7. Em 2010 tudo vai se repetir. Elegeremos políticos para nos representar e depois sabemos que não representam nadica de nada. Sabemos como são. Uma vez eleitos, sentem-se a salvo noutro país, o Brasil oficial, que não deve nada ao Brasil comum, muito menos explicações.


8. Não consigo ente
nder por que “terceirizar” ainda não foi levado para a vida conjugal. Maridos poderiam explicar às suas mulheres que não têm exatamente amantes. Apenas terceirizaram a vida sexual. Quem arrisca?

9. Encerro a coluna ouvindo o samba-canção “Saia do Caminho”, de Custódio Mesquita e Evaldo Rui, gravado por Araci de Almeida em 1945. Custódio morreu aos 35 anos, justamente quando atingia o ápice de sua carreira. Temos aqui um requintado samba-canção, dos melhores da dupla. Um trecho da letra:

10. “Junte tudo o que é seu / seu amor, seus trapinhos / junto tudo o que é seu / e saia do meu caminho / nada tenho de meu / mas prefiro viver sozinha / nosso amor já morreu / e a saudade que existe é minha”. Araci, com aquela voz só dela, encerra, melancólica: “Fracassei novamente / pois sonhei / mas sonhei em vão / e você, francamente / decididamente / não tem coração”.

domingo, maio 03, 2009

DO CAFÉ AOS CÁLCULOS RENAIS


Não é nostalgia, e muito menos saudosismo. Não é nada, não é nada, mas é alguma coisa que o dicionário não registra. Quero dizer que antigamente ninguém se metia em briga de marido e mulher – nem o marido. Hoje todo mundo se mete em tudo.


Se não me engano, começou depois que definiram o direito à intimidade, também conhecido por privacidade, palavra que os dicionários só passaram a registrar há pouco tempo . Além de feio, é um neologismo malformado e inútil. Afinal, íntimo é uma coisa; privado, outra. De resto, a confusão que anda por aí é só entre íntimo e privado. Rouba-se íntimo, rouba-se privado. Como dizia Machado, a confusão é geral.


Confunde-se o privado com o público, em particular no feminino, quando se trata da fazenda. A fazenda pública, quase sempre devassa, e a fazenda privada, em princípio indevassável. Os bens que são de todos, que ao governo cabe administrar, e os haveres de cada um, que ao governo cabe assegurar. Se os primeiros dissipa, confisca os segundos. Ou bloqueia, o que dá idéia de desatino em voga.


Volto à briga de marido e mulher. Uma das mais célebres, porque falada e cantada, foi a do casal Herivelto Martins, músico admirável, e Dalva de Oliveira, cantora inesquecível. Ambos já nos deixaram, fisicamente ou carnalmente, como dizem os kardecistas. Além das obras-primas que compôs, Herivelto teve achados que a gente nem se lembra que é dele. Introduziu o apito no samba, por exemplo. Fácil, não é? Hoje, sim, depois de inventado. Ninguém se lembrou disso nas homenagens a ele, mesmo na presença da filha que é linda.


Herivelto contava como foi que Dalva lhe acertou um cinzeiro na cabeça. Só porque ele falava ao telefone com Zezé Fonseca. Falava, não; ouvia, porque a Zezé era uma completa matraca. Infelizmente já não podemos ouvir a versão de quem atirou o cinzeiro. Dalva subiu ao céu desde 1972; Herivelto, desde 92. Imagino que estejam cantando a bela marcha-rancho Bandeira Branca, em sinal de paz. Um dia a paz desce, leniente, sobre os corações. Era uma vez o casamento indissolúvel. Tudo hoje é solúvel, do café aos cálculos renais. E às vezes é até dissoluto.


Eu acho engraçado quando um jornal escreve na legenda fulana de tal e seu atual marido. O adjetivo cabe, sim. E já convém dizer também atual filho. E atual neto. Nunca se sabe o dia de amanhã.

PERISCÓPIO

1. Antes, as empresas quebravam por incompetência de seus dirigentes. Agora, é a União, os Estados e os municípios que estão quebrando, mas não por culpa dos governantes. Culpa do mercado voraz cuja goela nunca está saciada.

2. Se você quer mesmo saber quem realmente manda numa empresa, examine as mesas. Quanto mais cheia a mesa, menos o seu ocupante manda. Quanto mais limpa a mesa, maior a autoridade.

3. Infelizmente, grande parte da mídia, acredito que na turma dos persuadidos, torna-se cúmplice do novo modelo de autoritarismo que Lula quer nos impor com o apoio da oposição. Elege como prioridade absoluta o sexo na praia, a eutanásia e começa a encher o saco com Dia das Mães.

4. Cid Gomes não tem gostado da maioria dos currículos que lhe chegam às mãos, caso decida mexer no secretariado por causa das eleições de 2010 (quem for candidato, tem de renunciar seis meses antes). Poucos passam no crivo se medi-los “do pescoço para cima”. São muitas as indicações reprovadas. Quem sabe, talvez tenha de botar anúncio em jornal, no “precisa-se”, e explicitar as exigências.

5. Muitos dos nossos times de futebol estão na bancarrota. Este esporte é o que está mais na alma brasileira, e que por isso mesmo reclama permanentemente maior presença do Estado, não como controlador, mas como incentivador das atividades desportivas no Brasil.

6. Sou de uma geração cheia de preconceitos e tabus, que não tolerava, por exemplo, a homossexualidade. Hoje, tudo é tolerado, e estou convencido de que amanhã será obrigatório. Tratarei de dar o fora.

7. Ando esquecido das boas anedotas. Não sei como começam, como terminam. Ainda bem. Nada mais chato que contador de piada. Como era mesmo aquela? Termina com uma grã-fina segurando o assaltante pelo braço, reclamando: “Tudo bem, fica com o escalpo, mas me devolve a peruca.”

8. De certa forma, e só por isso, todos nós, jornalistas, somos uns aristocratas. Já que nos dirigimos às pessoas que sabem ler.

9. Encerro a coluna ouvindo o singular, Paulinho da Viola, pequeno gênio pertencente à geração de sambistas que despontou na década de 60. Recebeu influências de compositores tradicionais, que desenvolve à sua maneira, modernizando-as sem desfigurá-las. Ele aqui interpreta sua obra-prima Foi um rio que passou na minha vida.

10. É um samba para o qual nenhum elogio basta, entre tantas belezas que compôs: “Ah, minha Portela / quando vi você passar / senti meu coração apressado / todo o meu corpo tomado / minha alegria voltar / não posso definir aquele azul / não era do céu / não era do mar / Foi um rio que passou na minha vida / e meu coração se deixou levar...”