sábado, maio 09, 2009

MEMÓRIAS, SÓ PARA VIDAS INCOMUNS


Que livros mais gosto de ler? Todo bom livro, mas a preferência é o livro de memórias. Os livros de memórias sempre ocuparam na minha vida e na minha estante espaço apreciável. Li-os na juventude e na mocidade, para conhecer a lição da vida dos outros, com a curiosidade atenta de quem recolhe uma confissão.


Li-os depois, e sobretudo hoje, para confrontar a vida alheia com a minha própria vida – desde que tragam em si a aventura da originalidade humana, ou a dimensão da obra literária. As memórias, por serem a voz de uma experiência existencial, são incompatíveis, por definição, com a juventude dos memorialistas: -- a recordação reclama espaço no tempo, quer para purificar-se, quer para se revestir de importância, na reconquista do tempo perdido.


À medida que vou vivendo, mais me convenço de que nada é mais ilusório que o presente – simples ponto de encontro entre o passado, que depende da memória, e o futuro, que reclama a nossa imaginação. Mesmo a palavra, quando está sendo escrita ou enunciada, converte-se em passado recente, no próprio instante de seu nascimento. Daí a frase feliz de Bergson, segundo a qual o presente nada mais seria do que a ponta extrema do passado. Ou a primeira ponta do futuro.


As vidas sofridas, como a de Rousseau, como a do maranhense Humberto de Campos, como a do recifense Nélson Rodrigues, (1912-1980), impõem-se, com mais vigor, à memória de quem padece. Daí a nitidez das evocações, nas Memórias de Humberto (1886-1934), o escritor mais lido de sua época, membro da ABL ainda bem jovem, 40 volumes publicados e nenhum traduzido para qualquer idioma, em contraste com a verdade e poesia das recordações de Goethe. Ou, para ficar mais perto, com as evocações do também recifense Joaquim Nabuco (1849-1910), em “Minha Formação”. Nestas, haverá mais poesia que verdade. Naquelas, mais verdade que poesia.


O passado, matéria-prima do historiador, também é o de homem de letras, como experiência vivida e acumulada – mesmo quando este se lança na ficção científica, inspirado na carga de experiência que a vida lhe proporcionou. Mas vejam bem: um livro de memórias tem de possuir grandeza literária, refletir uma vida incomum, um texto monumental, o espelho de uma época, divertido, pleno de absurdos. O próprio Machado dispensou suas memórias, e preferiu despistar com “Memorial de Aires”, seu último livro.


Para manter a situação que aí está, quase todos os nossos políticos são descartáveis, menos o principal homem do setor, o presidente da República. Dá muito trabalho arranjar outro pior. Deixa ele ficar. Nós o merecemos; 80% estamos com ele.


2 Comments:

Anonymous Arlindo Gaudioso Brilhante, said...

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"ORATÓRIA, PENA E ESPADA"

Nossa experiência de vida e de leitura nos leva a observar o homem como um ser instável e insatisfeito e, muitas vezes, cheio de ambição e de malícia. Não foi sem razão que em todas as épocas da humanidade o homem quis se impor, uns aos outros, e os principais instrumentos de imposição, dominação e insatisfação foram a “oratória, a pena e a espada”.
Só para citar “em passant” tivemos grandes oradores gregos, dentre os quais cito Demóstenes e Cícero. Mais tarde, apareceram os doutores da Igreja, cuja oratória era fabulosa e, mais modernamente veio à oratória dos ditadores. É curioso lembrar, no contexto grego, as sátiras de Horácio e de Juvenal, como instrumento de dominação, diferenciado apenas na abordagem. A sátira horaciana é otimista e pretende provocar o riso diante das misérias humanas, através da técnica da persuasão; a sátira juvenaliana é mais pessimista e caracteriza-se pela indignação moral, pela condenação dos vícios, contra a corrupção dos homens. Enquanto os seguidores de Horácio tinham como objetivo persuadir, os de Juvenal preferem denunciar.

Concomitantemente à evolução da oratória, a palavra escrita foi se desenvolvendo através da “pena”, fomentando pontos de vista e noticiando os acontecimentos históricos e científicos da humanidade, provenientes de pensamentos e conclusões particularizadas que muito influenciaram a humanidade e a sua evolução. Do mesmo modo, “Pari passu”, com a oratória e a pena, a espada também foi instrumento de dominação e poder. A espada entre os romanos era o símbolo de autoridade, daí um governador de província era facultado o “gladii ius”, o “direito de espada”. Cícero, eminente jurista, manejava com maestria a “espada” da palavra, poderosa arma para convencer os opositores. Quer dizer, eles tinham poder sobre a vida e sobre a morte. Os romanos executavam por decreto, e com a espada. A legislação entre os judeus este tipo de execução.

Assim, a história registra a história da epopéia do homem fazendo uso da espada, abrindo caminhos com sangue, dor e morte. E parece paradoxal ter saído da boca do “Príncipe da Paz”, Jesus Cristo: Não penseis que vim trazer paz à terra, mas espada”.

Se por um lado o homem evoluiu nas ciências e nas artes, por outro, continua com a sede de poder e a ambição de conquistas materiais que têm sido a causa da derrocada de sociedades inteiras, se levarmos em conta que não foram direcionadas para o bem-estar do homem. Além de nossas tão conhecidas fraquezas o homem é constantemente atormentado pelo que vem depois da morte, o que tem sido motivos de conflitos interiores. Via de regra, o homem se abriga na crença, não por amor a Deus, mas por temer a penas depois da morte.

Vivendo nesse estado de inquietação ou insatisfação diante do porvir, a humanidade procura de alguma forma compreender do mundo que o cerca, e o faz exteriorizando o que está dentro de si, para recebê-lo de volta, direta ou indiretamente. E é através da criação, do trabalho e em todos os campos do saber, desde a matemática, passando pelo direito e até na medicina, que a humanidade tentar “dar de si para conhecer a si”, mesmo que, as vezes, egoisticamente. Não fogem a regra os homens de literatura e das artes.

Daí a necessidade que temos de conhecer as outras pessoas, através da leitura de suas memórias, pois é nelas que eu me comparo e faço uma lapidação do meu eu existencial, procurando me amoldar, para que eu não seja nem instrumento dominador nem de dominação, usando ou manipulando, a oratória, a pena e a espada.
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1:55 AM  
Anonymous Arlindo Gaudioso Brilhante, said...

Dentre tantas correções a fazer. saliento a da última frase do segundo parágrafo, onde diz assim: "A legislação entre os judeus este tipo de execução. LEIA-SE: "A legislação entre os judeus não previa este tipo de execução."

9:10 AM  

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