domingo, maio 03, 2009

DO CAFÉ AOS CÁLCULOS RENAIS


Não é nostalgia, e muito menos saudosismo. Não é nada, não é nada, mas é alguma coisa que o dicionário não registra. Quero dizer que antigamente ninguém se metia em briga de marido e mulher – nem o marido. Hoje todo mundo se mete em tudo.


Se não me engano, começou depois que definiram o direito à intimidade, também conhecido por privacidade, palavra que os dicionários só passaram a registrar há pouco tempo . Além de feio, é um neologismo malformado e inútil. Afinal, íntimo é uma coisa; privado, outra. De resto, a confusão que anda por aí é só entre íntimo e privado. Rouba-se íntimo, rouba-se privado. Como dizia Machado, a confusão é geral.


Confunde-se o privado com o público, em particular no feminino, quando se trata da fazenda. A fazenda pública, quase sempre devassa, e a fazenda privada, em princípio indevassável. Os bens que são de todos, que ao governo cabe administrar, e os haveres de cada um, que ao governo cabe assegurar. Se os primeiros dissipa, confisca os segundos. Ou bloqueia, o que dá idéia de desatino em voga.


Volto à briga de marido e mulher. Uma das mais célebres, porque falada e cantada, foi a do casal Herivelto Martins, músico admirável, e Dalva de Oliveira, cantora inesquecível. Ambos já nos deixaram, fisicamente ou carnalmente, como dizem os kardecistas. Além das obras-primas que compôs, Herivelto teve achados que a gente nem se lembra que é dele. Introduziu o apito no samba, por exemplo. Fácil, não é? Hoje, sim, depois de inventado. Ninguém se lembrou disso nas homenagens a ele, mesmo na presença da filha que é linda.


Herivelto contava como foi que Dalva lhe acertou um cinzeiro na cabeça. Só porque ele falava ao telefone com Zezé Fonseca. Falava, não; ouvia, porque a Zezé era uma completa matraca. Infelizmente já não podemos ouvir a versão de quem atirou o cinzeiro. Dalva subiu ao céu desde 1972; Herivelto, desde 92. Imagino que estejam cantando a bela marcha-rancho Bandeira Branca, em sinal de paz. Um dia a paz desce, leniente, sobre os corações. Era uma vez o casamento indissolúvel. Tudo hoje é solúvel, do café aos cálculos renais. E às vezes é até dissoluto.


Eu acho engraçado quando um jornal escreve na legenda fulana de tal e seu atual marido. O adjetivo cabe, sim. E já convém dizer também atual filho. E atual neto. Nunca se sabe o dia de amanhã.

1 Comments:

Anonymous Casales Pierrot Bianco, said...

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DO LEITE À PENSÃO ALIMENTÍCIA

É nostalgia sim, muita saudade daqueles tempos que somente a bíblia registra,menos os dicionários. Estou a dizer que, em tempos atrás, não se “metia a colher” em brigas de mulher e marido – nem a verdadeira mulher. Hoje elas se metem e querem acabar o nosso casamento. As outras, querem mandar mais que as nossas verdadeiras.

Não existe mais convivência harmônica depois que definiram a igualdade de direitos das mulheres de cabarés, que antes era conhecido por intimidade. Elas descobriram que mandam mais do que nossas mulheres verdadeiras, e têm seus direitos garantidos. O problema está no nosso privado e íntimo, já que ele não é mais tão privado assim, nem muito menos íntimo. Como dizia o Adolfo, o Caminha: é perigoso, mas eu gosto. O Adolfo cujas relações afetivas foram sempre extras em sua vida.

Ficamos confundidos com o particular feminino, pensando que ele é só nosso, quando, na verdade, não o é, pois pertence,também, a outros, que não sabemos quem é.
Mas elas agem assim, pública, tal qual a fazenda(o fisco) que devassa a vida do cidadão, querendo saber o que possuímos, dos imóveis que temos, as fontes de renda e etc, querendo elas administrar o nosso patrimônio. Àqueles que possuem muitos haveres são os mais procurados. Depois, meu amigo, quando você está comprometido até o espinhaço, elas jogam as unhas de fora, querem tirar tudo o que você, até com chantagem. Acredita?

Mas, você pensa que no romance de Noel Rosa e a Ceci, dama do cabaré do Apolo (um pardieiro fedorento), por quem Noel era apaixonado, não aconteceram brigas? Ah! Muitas brigas, sim, que não são relatadas pela literatura musical. Mas, acontece que o Noel Rosa morria de amores por Ceci, tanto é que escreveu nove músicas inspiradas nelas. Eis: “Quantos Beijos”, “A Dama do Cabaré”, “Pela Primeira Vez na Vida”, “Deixa de Ser Convencida”, “Pela Décima Vez”, “Quem Ri melhor É quem Ri no Fim”, “O Maior Castigo que te Dou”, “O Maior Castigo que te Dou”, “Pra que Mentir”, “Ilustre Visita” e “Último Desejo”. Os títulos das músicas refletem as oscilações desse amor conturbado, demonstrando, muitas vezes, a exigência de fidelidade que ela, a Ceci, não poderia dar a nenhum homem, principalmente a um homem apaixonado, como Noel. Ceci nasceu para ser mundana. Sabe, coisas do destino.

Nem a Ceci nem o Noel Rosa vivem entre nós, tanto ele como ela (cacofonias propositais) devem estar nos “Quintos dos Infernos”, segundo a bíblia. Ele tocando no tridente do satanás, e ela, a Ceci, sentindo aquele calorzinho da fogueira de São João: “Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo, numa festa de São João” .

Assim, eu acho por demais engraçado, quando certas colunas sociais, dos jornais, escrevem: “ fulaninha de marido novo”. Ou então: fulaninha com um novo “affair”, trata-se do chiquérrimo “chamoson”...(dá o nome da vítima) Um velhote metido a sisudo que todo ano muda de mulher.

Eu fico rindo à toa, quando determinados cadernos de jornal escrevem, com letras garrafais a façanha do velhote conquistador. O substantivo cabe sim, com adjetivo ou sem ele. Mas, para o velhote conquistador, prefere o coletivo. E assim, já não mais convém dizer quais são seus filhos, nem seus netos, pois todos são amparados pela lei. Que bom os tempos atuais. Afinal, nunca se sabe o futuro. Quem sabe algum deles se apiede do velhote conquistador em seus últimos dias.

4:33 PM  

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