sábado, dezembro 18, 2010

CHAFURDO


Enquanto escrevo o blog, nesta manhã de sábado, o problema de completar o ministério não foi resolvido. São 39 cadeiras ministeriais. Eu disse 39, e falta apenas uma para chegar às 40 da Academia Brasileira de Letras, a famosa Casa dos 40.


O que se pode esperar de um governo com 39 ministros? JK tinha apenas 12. Getúlio, 13. Sarney chegou aos 23, organizado por Tancredo, e fez uma administração desastrosa. (Você foi “fiscal do Sarney”? Suicide-se!!!)


Por que Dilma não cria o 40º? Por exemplo, o Ministério da Fiscalização Presidencial? Poderia ser ocupado pelo honrado Zé Dirceu, e ela finalmente aprenderia a diferença entre talento e quantidade.


Dirceu é o autor da famosa frase: “Todo Pooddle é um cachorro, mas nem todo cachorro é um Pooddle.”

NUDEZ


Nada me dá tão bem a idéia da nudez absoluta do que uma lâmpada acesa, pendente de um fio, no meio da sala, sem abajur. Parece que está ali a exibir-se. Nuinha. Como uma menina no banho.

GERAÇÕES


Cada geração nova tenta desalojar de seus postos a geração mais antiga. Nega-a, combate-a, injuria-a, e assim se compõe a história das letras e das artes.


Essa luta é como um embate de epilépticos e paralíticos. Não será bem isso. Nem todos os valores novos são epilépticos; nem todos os valores antigos serão paralíticos.

Mas o litígio vem de longe, e é por ele que passa o caminho da renovação estética.

FREUD E O CIGARRO


Freud, e seus charutos, que nunca deixou, apesar do câncer no queixo, que o matou e o fez ter dores pavorosas, era o chamado fumante inveterado.


Seus amigos, médicos, diagnosticaram-lhe uma taquicardia violenta causada pelo charuto. Freud dizia-lhes que preferia viver menos e ter algum prazer a esticar a vida em tédio.

Falou o sábio...

MILLÔR


Vocês precisam ler, mesmo com muito atraso como fiz, Millôr Definitivo, A Bíblia do Caos (Editora L& PM, 2000), onde ele reúne mais de 5.000 frases “escritas e ditas através deste tempo todo.” Millôr é o gênio que nunca envelheceu, a exemplo do irmão, Hélio, o jornalista mais completo do Brasil.


Seus textos não são para todos os gostos. Personalidade definida, é picante, amargo, requer cabeça para entendê-lo. Se não escrevesse numa língua de periferia, seria considerado um dos melhores humoristas do mundo.


Só uma frase, escolhida aleatoriamente: “Cada vez há mais fortunas feitas entre o pôr-do-sol e o nascer do sol do que entre o nascer do sol e o pôr-do-sol.”

EFEITO CIRO


Indiferente ao que lhe reserva o PSB, Ciro Gomes esquia no Pólo Norte, na companhia de um filho. Sai por aí, volta ao Brasil e sai de novo, sem evitar a imprensa (adora holofotes e fala pelos cotovelos). Ele sabe que será convocado para o Ministério da Integração Nacional, do qual já foi titular, mas não sabe se aceita.


-- Aceita, sim. Ele tem talento para tudo, menos para ficar parado.


Quem disse isso foi sobralense Oman Carneiro, amigo de infância de Ciro, com quem certamente vai trabalhar, já que não foi eleito deputado federal, como pretendia. Ciro faz charminho e deixa seus adversários a dizer besteiras.

POETA DO PIAUÍ


O poeta, crítico literário, jornalista e advogado Da Costa e Silva (Antônio Francisco Da Costa e Silva, 1885-Rio de Janeiro 1950), nascido em Amarante, entre Teresina e Floriano, às margens do Parnaíba, dedicou ao “velho monge”, morto de saudade, este genial soneto, obra-prima nos florilégios da literatura brasileira. Vejam a beleza dos versos de Saudade:


Saudade! Olhar de minha mãe rezando

E o pranto lento deslizando em fio...

Saudade! Amor de minha terra... o rio

Cantigas de águas claras soluçando.

Noites de junho. O caburé com frio

Ao luar, sobre o arvoredo... piando... piando...

E ao vento as folhas lívidas cantando

A saudade imortal de um sol de estio

Saudade! Asa de dor do Pensamento!

Gemidos vãos de canaviais ao vento...

Ai! Mortalhas de neve sobre a serra.

Saudade! O Parnaíba – velho monge

As barbas brancas alongando. E, ao longe,

O mugido dos bois de minha terra...


Único rio genuinamente nordestino, com 1.720km de extensão (nasce na Serra da Tabatinga e desemboca no Atlântico, onde forma um dos deltas mais belos do planeta), às suas margens, a 60km da cidade de Floriano, ao sul do Estado, foi construída a Barragem da Boa Esperança, obra comandada pelo engenheiro César Cals de Oliveira Filho e inaugurada em agosto de 1964. Da Costa e Silva é também o autor da letra do Hino do Piauí:


Piauí, terra querida,

Filha do sol do equador

Pertencem-te a nossa vida

Nosso sonho, nosso amor...

As águas do Parnaíba

Rio abaixo, rio arriba

Espalhem pelo sertão

E levem pelas quebradas

Pelas várzeas e chapadas

Teu canto de exaltação... etc. etc.

LIVROS


Já disse e repetirei sempre: leitura de jornal é uma coisa; leitura de livro, outra, e bem diferente. O primeiro faz parte do nosso café da manhã, ao passo que o segundo há de fazer parte de nossa vida.


E lembre-se: só existem duas espécies de livros – os livros do momento e os livros de todos os momentos.

CONSOLO


Resta o consolo do trabalho, diz Nélson Rodrigues em crônica deliciosa. Mas, muito a propósito, eu acho que São Paulo estava errado e São João certo. A salvação é pelas obras e não pela fé. Esta matamos há muito tempo. Eu achava que no nosso mundo só nos resta fazer o nosso trabalho o melhor possível e aguardar estoicamente os resultados. Agora é que comecei a entender, posto que tarde demais. Ou não?


Tivesse ao menos talento, vá lá. Porque o talento absolve seu portador dos maiores pecados. O diabo é que nasci burrico.

domingo, dezembro 12, 2010

VIVER 100 ANOS


É conhecida a história do velho sertanejo de Juazeiro do Padim Cícero que jamais tinha visto o mar. Um repórter levou-o para realizar seu sonho. Ele ficou olhando, olhando, com a mão no queixo, segurando o chapéu de palha. E com um olhar iluminado, disse:


-- Muito lindo, muito distinto, inquieto. Mas, se mal pergunto, onde fica o outro lado?

Difícil para o repórter explicar. Como o sertanejo festejava 100 anos de vida, e foi levado a conhecer o mar como presente, o repórter aproveita e pergunta:

-- Qual o segredo para se chegar tão bem aos 100 anos?

-- Home – explicou ele – dormindo na hora em que dormem as galinhas e me alimentando com elas...

MEMÓRIAS


Na literatura brasileira, eu só conheço dois livros de memórias absolutamente incomparáveis. Um, são as Memórias, de Humberto de Campos (1886-1934), o genial e sofrido escritor maranhense de Miritiba, membro da ABL. O outro é Solo de Clarineta, de Érico Veríssimo (1905-1975), em dois volumes. Gaúcho de Cruz Alta, a crítica o consagrou como “o maior romancista brasileiro”.


Machado de Assis (1839-1908) não escreveu memórias, nem gostava desse gênero literário. Despistou com Memorial de Aires, seu último livro, o qual, na verdade, é quase um autoretrato, não só dele como de Carolina. Para os críticos, o livro mais bem escrito de Machado e o mais bem escrito em português.


Bem antes, para os demais escritores, como diria Oscar Wilde se referindo a Dostoiévski, teriam restado apenas alguns adjetivos.

O MENINO



Qual o adulto que não tem dentro de si, inseparável vida afora, o menino que foi um dia? No meu caso, a diferença que há entre mim e este companheiro de infância é que ele, hoje, grave, sisudo, enclausurado. distante, não sabe explicar seus fracassos ao menino que foi – ao passo que eu me explico, e o menino me perdoa.

ABORTO


Pelas estatísticas, a grande maioria dos médicos, em todo o mundo, é contra o aborto. Assunto em que homem não pia, obviamente, o aborto é aceito por alguns, mediante o cumprimento de certas condições. Problema delicado, sobretudo pela posição decisiva da Igreja, que o condena a todo momento. As pacientes, quase em sua totalidade, são jovens demais, drogadas demais, pobres demais.


Sempre achei que os religiosos antiaborto querem controlar a vida sexual das mulheres e não vejo motivo para mudar de opinião. Mas ao mesmo tempo o descaso com que engravidam e “despacham” fetos para o além, o que quer que seja o além, causa-me um certo asco. Cinco milhões de abortos por ano. É demais. O aborto pode ser, e muitas vezes é, talvez, necessário, porém é degradante.


Que sorte não ser mulher.

ASTROLOGIA


É preciso ter a cabeça cheia de mingau para acreditar em astrologia. Leio que Edwin Hubble, que deu nome ao telescópio, contou 10 bilhões de sistemas iguais ao nosso. O nosso é padrão? É estarrecedor. Apesar de o homem já ter pisado no chão lunar e se aproximar cada vez mais de chegar a Marte, ainda somos completamente imbecis diante da indecifrável grandeza sideral em anos-luz.

BANDEIRA


Leitor graduado me pede uma opinião a respeito de mudanças na “visualidade da nossa bandeira.” Questão tola, bem primária. Para uma revisão simples, bastaria um bumba-meu-boi, com pedaços da bandeira do Flamengo e do Corinthians.

ÉTICA


Enquanto Dilma atravessa um campo minado para formar vez maior o fosso entre a política e a ética. A tal ponto que Lula, alucinado pelo poder, veta nomes aqui, aprova outros ali, sem que Dilma tenha coragem de qualquer tipo de reprovação.


Deviam promover um debate público – e nas consciências – como elementos contraditórios. Ou se é político ou se é ético. Não se pode servir aos dois senhores. Daí que a paisagem pública é um permanente assalto ao poder, sem qualquer outro imperativo que não o poder em si.


Para conquistá-lo, para mantê-lo, para prorrogá-lo, não apenas tudo é permitido, mas nada deve entravar o processo do poder do PT e dos petistas do figurino de Lula, para quem esse negócio de ética seria coisa para filhas de Maria, débeis mentais que não entendem as coisas.


Sei não. Mas vejo o Brasil dos próximos anos com profunda preocupação, até porque não vão mudar nem o queijo, nem as moscas, nem os ratos. Lula jamais respeitou a Constituição, a Justiça, o Congresso, seus eleitores e sequer sua histórica popularidade. Esquece que um dia a casa cai, e para ele no curto e doloroso espaço de duas semanas.

SÓFOCLES


Poeta trágico da Grécia – 500 anos antes de Cristo – tinha 80 anos quando broxou. Se disse aliviado em versos extraordinários (a tragédia grega, se tem uma mensagem, é chauvinista). É que o homem precisa conquistar a paixão por mulheres, a paixão que é representada pela carnalidade das mulheres, e criar um mundo de leis e de transparência espiritual.


É chato para as moças, mas a verdade poética, apenas, não filosófica, é exatamente essa.

sábado, dezembro 04, 2010

RIQUEZA


Provérbio popular com 4 mil anos de estudos especiais, provando uma das verdades mais verdadeiras do planeta: “Quem não rouba e não herda, enrica é merda”.


Nos bons tempos em que brilhava como o mais genial dos oradores políticos do país, seus inimigos, por causa da rima, completavam: “Assinado, Carlos Lacerda”.

VIOLÊNCIA E MUTIRÃO


A violência, com favela ou sem favela do Alemão, desfigurou o Brasil. Corroeu nosso estilo de vida, fulminou a fisionomia de uma pátria de irmãos. Somos um povo com medo da própria sombra. Um povo que se sente ocupado pelas hordas de um particular apocalipse.


Nas grandes (e nas pequenas) cidades há quem mate por matar. Não leva nada da vítima, Foi só “o prazer de matar”, como fazem os psicopatas. E matam ricos. E matam pobres. E em torno das residências cavam-se fossos e se levantam guaritas, ou pesadas grades que encarceram o sono.


Que fazer? Tudo o que for possível. Sim, porque há outro tipo de violência, decorrente do próprio modo de vida das grandes cidades modernas, com seus dramas e suas neuroses. E ainda a violência que dorme no coração dos homens, em qualquer sociedade, inclusive nas mais desenvolvidas ou justas.


Vivemos um tempo de atrocidades inauditas. Estes tempos são a maior câmara de horrores da história, sugerindo o fim do humanismo.

REFORMA AGRÁRIA


Ninguém fala mais nela. Todos os governos prometeram torná-la uma realidade. João Goulart caiu porque jurou chegar lá, e não chegou, e politicamente papocou como um mamão maduro.


A reforma agrária (Dilma jamais tocou nesse assunto) é o único caminho para ampliar a produção, faze justiça social, evitar o êxodo rural e restaurar a paz na área do campo, onde a brutalidade vergonhosamente ocupa o lugar do diálogo e do entendimento, da solução pacífica dos conflitos.


O Brasil é, ainda hoje, em parte, o que dizia o visitante estrangeiro: um país voltado para o litoral. Em muitos lugares ainda estão em vigor muitos Tratados de Tordesilhas.


E se ollharmos com os óculos do realismo, veremos que grande parte dos problemas de nossos dias foram gerados precisamente pelo êxodo daqueles que não tiveram condições mínimas, econômicas e sociais, para permanecerem fixados na terra. Acabaram atraídos pela ilusão da cidade grande.

DESABAFO


Encontro no Livro Técnico um velho amigo de muitos anos. Poeta dos bons, sempre correu atrás de notoriedade, e agora reconhece ser, hoje, um nome esquecido. Daí o seu desabafo:


-- Sabe, Hélio, a glória, que todo mundo bajula, não passa de um cemitério. Nesse campo-santo, de que o tempo é o coveiro, todos os mausoléus são provisórios. Implacavelmente, mais dia, menos dia, as ossadas são transferidas para a vala comum.


E pôs-se a rir, saindo, cabeça baixa. Mora sozinho, com uma empregada que o ajuda há 30 anos.

RACISMO


A conclusão mais clara e terrível sobre a relação entre brancos e negros nos EUA, mesmo agora com um presidente negro, é a de sempre: os brancos querem distância, não querem pensar no assunto; os negros de talento terão sempre público, fama, glória e dinheiro. Enquanto a maioria simplesmente não se adapta à vida da sociedade americana.

No Brasil, não é diferente. Negro é negro, ficam de um lado. Branco é branco, ficam de outro. Só a sombra deles é igual...

MÚSICA


Juro não poder acreditar que quem goste das músicas que nossas emissoras de rádio jogam no ar seja animal vertebrado. Pouco, muito pouco, quase nada escapa. Só o recurso do CD nos salva.

HORROR


Scorsese sempre foi um cineasta ousado. Quando os críticos pararem de bajular A marca da maldade (Touch of evil), de Orson Welles, talvez percebam que Cabo do medo (Cape Fear), com Robert de Niro dando um show, é um clássico do horror.

SEXO


Foi o cristianismo que impôs as conhecidas restrições a sexo como prazer e não o judaísmo, ainda que este fosse monogâmico, e punitivo, nos Mandamentos, de quem cobiça a mulher do próximo. Mas se isso hoje nos parece, na permissividade atual, restritivo, na época foi um dos princípios legais de uma sociedade civil civilizada.


A propósito, tive um grande amigo, há algum tempo transferido para o além, que costumava dizer, em tom de brincadeira: “Amai ao próximo como a si mesmo, e a mulher do próximo mais do que a si”.


Nem a Marta Suplicy, sexóloga, chegaria a esse grau de sapiência.