UM POUCO DAS CONFISSÕES
Eu devia ter me acostumado porque, já aos 19 anos, perdi um emprego no Banco do Brasil por causa de um bacilo de Koch. Foi meu primeiro encontro sério com a morte, certo de que, recluso, condenado ao repouso, tudo quanto me restava era a saudade imaginária da vida que não vivera. Mas aqui estou, e a ninguém interessa saber como tem sido o resto.
Pensei ficar pelo caminho. Não estou apenas vivo – sobrevivo. Mesmo assim, trabalho, e nunca interrompi, uma vez sequer, meus compromissos profissionais. Não feri ninguém com a minha pena, e aplaudi aqueles que mereceram louvor pelo critério de meu gosto pessoal. Ao refletir sobre os percalços do ano-velho, vejo agora neles a aprovação que nos faz amar a vida com outra intensidade.
Os calhaus do caminho ficaram para trás.
E essa revelação, ou confirmação, não me faltou. No aconchego e no carinho de toda a família. No desvelo com que fui tratado.
A começar por minha incomparável companheira, mãe de minhas duas filhas, a mesma namoradinha única que entrou em meu coração aos 15 anos de idade como uma bênção de Deus.
Vai, ano-velho, e até nunca.