QUEM TEM MEDO DE JORNALISTA?
Eu já vi jornal morrer, eu já vi jornal nascer. Entre os dois fatos, bem distanciados, a promessa de não falar neste assunto, pelo menos por enquanto. Penso no desperdício de energia e talento, postos a serviço da normalização democrática. Passei décadas a escrever, escrever, escrever. A escrever sobre e contra a antilei, o arbítrio, a tortura, o AI-5, o resto. Podia cuidar de outras coisas, dos passarinhos, do papagaio, dos livros, amados livros. Quem sabe, ler também o poema de Horácio. Nunca li direito a Divina Comédia, mas conheço na ponta da língua o maldito quarentão AI-5.
A vasa inesgotável dos remendos fabricados sob medida, na alfaiataria do casuísmo, do mais reles imediatismo. E pergunto: onde estão os faróis altos? O Brasil não é apenas a popularidade formidável de Lula, pontes, viadutos e elevados, e hidrelétricas, e soja, e eletrodomésticos, o Pac, o pré-sal etc. e etc. O Brasil deve livrar-se de sua pobreza. Deve ser justo. E pode ser pobre e decente, sem o escândalo afrontoso dos anos-luz que nos separam da multidão infinita dos deserdados.
Já mudei de jornal algumas vezes, principalmente na fase do Rio de Janeiro. O jornalismo é (ou era) instável. Os jornais também morrem. E há o incontrolável desejo de desabafar. Cuspir a espinha atravessada na garganta. Para quê? Para nada. Tenho perfeita consciência de que não vale rigorosamente nada. Escrevemos, escrevemos, clamamos no deserto.
O clube do poder tem as portas lacradas e calafetadas. Um ou outro conceito afaga a nossa vaidade. Influência? Nenhuma. Senhores: não tenhais medo de nós, escribas. Somos os trouxas de um plantão cívico, consciências atormentadas, ardentes de brasilidade, de querer o melhor para o Brasil. Hierofantes de hieróglifos indecifráveis, inocentes néscios que acreditam
Depois... bem, o Brasil é vosso. Fazei dele o que melhor vos aprouver. Consola-nos a certeza de que morreremos indignados e passamos adiante este legado de ira e ternura. Cidadãos da República em uma lição de polidez e de firmeza para um mundo despovoado.
1 Comments:
Eu já ví jornalista intéprido como o Deolindo Barreto, o João Brígido e Jader de Carvalho. E u já ví jornal morrer, como o Gazeta de Notícias, o Unitário, Correio do Ceará, o Nordeste. Eu já ví jornal nascer, como o jornal do Meio Dia, do inesquecível Dorian Sampaio; como o Diário do Nordeste. Ví a antilei do AI-5 sendo imposta ao povo, quando a mesma foi resultado do pedido povo, para que os militares tomassem o poder, quando da grande “Marcha da família com Deus pela liberdade”. Lí, escrevi, expus os meus pensamentos, que os outros não quiseram ler, mas o fiz pelo simples ato de escrever. Não perdí tempo não, pois a medida em que eu escrevia, ao mesmo tempo, buscava alicerçes filosóficos, na sociologia Webereana, poéticos em Dante, em Cervantes, em Bruyèrre, e tantos outros. E o mais interesssante é que as pontes, os viadutos, os elevados começaram a ser construídos após a edição do AI-5. Lula é produto fabricado pela elite a serviço da elite que coloca um representante do operariado brasileiro, com a finalidade de dar sustenção a macabra política de fortalecimento da concentração do capital. Lula é representante de um pacto social escraboso fermentado nas hostes do poder econômico, que causa acomodação na classe do operariado pois, simbolicamente, Lula representa o operário brasileiro. Futuramente, quando a história analisar a derrocada econômica de Lula, os representantes da elite, ou quem sabe os militares dirão: “Lula foi um representante do povo que não teve a capacidade em gerir os destinos de uma nação como o Brasil”, Frase esta, já muito como propagada em eleições anteriores, quando Lula disputou com representantes da elite e perdeu. Mas chegou o momento de Lula ser o escolhido pela elites, pois através dele as elites se locupletam, se beneficiam, como se ele fosse uma simples marionete.
Verdadeiramente, proclamanos nossa palavra no deserto, pois a verdade, é que os idealistas desapareceram. Agora, o que vale hoje não é mais o idealismo, mas o imediatismo de tudo que pode acontecer em nossas vidas. Muitos não estão precupados com a ceia de natal do pobre, pois seu natal já está garantido seu Faisão. Mesmo, assim, eles fazem campanhas incentivando donativos, que saem a maior parte do bolso do pobre.
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