sábado, novembro 29, 2008

Os Políticos e a Honestidade


Não há um só dia em que certos políticos não estejam na crônica policial dos jornais, acusados de corrupção, processados, cassados, presos etc. e etc. É uma rotina espantosa. Aprendi, por isso mesmo, a não gostar daqueles que vivem a se apregoar honesto, como se a honestidade fosse um trunfo, uma vitória de vida.


É verdade que num país como o nosso, ser honesto vale alguma coisa como virtude moral e cívica. Um país cujos homens públicos são quase sempre desonestos – há exceções mui honrosas – acaba gerando esse tipo de vanglória e paga um tributo imenso à insaciável rapinagem da classe. Quando se instalam na administração pública, é um deus-nos-acuda. Só se sabe aonde esses canais conduzem, quando se observa o aparecimento de enormes fortunas feitas num único período administrativo.


Os honestos passam então a ser considerados simplórios, que não sabem aproveitar oportunidades, até que lhes vem, como dizia Ruy (com ipsilone, para não zangar os baianos), a vergonha de ser honestos. Mas quando eu vejo certos políticos falar de caráter, dse austeridade, de moral, pavoneando-se de sua irrepreensível conduta, fico desconfiado que, o mais das vezes, estamos diante de um tartufo. Conheço bem a espécie. Ou penso que conheço.


Não sei como La Bruyère deixou de retratá-la em seu livro famoso. Afinal, a honestidade é a simples higiene do homem de bem. E quem toma banho não precisa dizer que não fede. Millôr, neste caso, fez um primor de resumo: “Honestidade: aquilo que nunca acreditamos que os outros tenham e os outros, por sua vez, não têm.” A verdade é que rouba-se tanto no Brasil que a solução – quem sabe – talvez fosse a criação de um Ministério da Corrupção que centralizasse essa importante atividade e a regulamentasse.


Não faltariam eminentes corruptos que se prontificariam a assumi-lo, até sem receber nada. Só para ter o ponto.

PERISCÓPIO

***** Pensando bem, meus americanos favoritos ou são judeus ou meio-judeus ou são pretos e tocam algum instrumento. Prefiro o emocionalismo latino ao laconismo americano e acho o sangue-frio uma das piores qualidades humanas.


***** Não há copidesque no mercado – nem o do computador – que consiga tirar uma vírgula que seja de qualquer bula acompanhante da droga nacional.


***** Lula continua esfregando a mão, de júbilo, por conta de uma utopia chamada pré-sal. Equivalente ao sonho do famoso capitão de Moby Dick, a história da imensa e lendária baleia branca.


***** Fico a pensar na vida que já vivi, nos companheiros mortos, nos amigos que me restam. Enquanto me pergunto se não perdi o melhor de mim mesmo nos sonhos que realizei.


***** Tenho a economia como uma ciência maldita. Trata do valor das coisas, uma abstração, como se fosse a coisa, o que é um pouco como retocar a radiografia, em vez de cuidar do doente.


***** De tanto fazerem o brasileiro de bobo, é assombroso que ele ainda não tenha feito uma bobagem. Taí um povo bom e paciente.

sábado, novembro 22, 2008

BOM É NÃO LER LIVROS RUINS


Um grande sucesso, a Bienal Internacional do Livro, em Fortaleza. Ótimos títulos, arrastou multidões. Gosto de dizer que é preciso apoiar o livro. Só um povo que lê pode ter consciência de si próprio e da cidadania, saber o que quer e fruir a liberdade.

Mas, independente da Bienal, devo dizer que há, no mercado, uma montanha de livros para você não ler, de tão ruins. Se há livros para ler, há livros para não ler, e este tema me fascina. É a vulgarização comercial dos livros e da cultura. Schopenhauer (1788-1860) já dizia: “A leitura é o encontro de duas coisas: o livro e a cabeça do leitor. Quando este choque produz um som oco, este som não provém necessariamente do livro.” E mais: “Um livro é um espelho. Quando um asno se põe diante dele, não se pode esperar que apareça o rosto de um sábio”.

Com o passar dos anos e muita leitura, aprendi que para ler o bom uma condição é não ler o ruim, porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos. É por isso que, no que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Esta arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público, o tempo todo. Quando Machado de Assis morreu, há um século, na mesa de cabeceira o único livro era um volume de Schopenhauer.

Nove décimos de toda nossa literatura atual não tem outra finalidade a não ser a de tirar alguns reais do bolso do público, e com este objetivo conspiram decididamente o autor, o editor e o crítico. E aprenda: aquele que lê muito e mal, fica estúpido, perde a capacidade de pensar por conta própria, como quem sempre anda de carro e acaba se esquecendo como se anda a pé.

PERISCÓPIO

***** No início do fascismo, Mussolini dizia: “O cristianismo promete o céu. Eu prometo manteiga!”. Tal como quer o PT, ele ficou no poder uns 20 anos. Até que seus compatriotas o penduraram de cabeça para baixo numa praça de Milão.

***** João Alfredo do Nascimento é desses queridos amigos que só telefonam para dar boas notícias. As ruins ele espalha pela Praça do Ferreira. Respeitado pelos colegas do velho INPS, ao qual dedicou muito de sua vida honrada, já está a merecer uma estátua. Com óculos e tudo.

***** As eleições americanas são de uma desorganização assustadora. Cada estado tem um método diferente, uma improvisação meio adoidada. Neste ponto, perdem feio para nós.

***** Há quem diga que a corrupção chegou a um ponto que até os corruptos tradicionais já não se escandalizam. Discordo. O que ocorre é que todo mundo é honrado até prova em contrário, e no Brasil nunca aparece a prova em contrário.

***** Sobre a reforma ortográfica, penso o seguinte: se alguém se acha com direitos e poderes para modificar a estrutura da língua em que nos expressamos, faça como o espanhol Juan Ramón Palanca, que inventou o Tupal.

***** Autêntico sarapatel de sufixos e radicais de palavras de oito línguas em uso no mundo contemporâneo, o Tupal, segundo seu criador, pode ser aprendido em uma hora...

sábado, novembro 08, 2008

TEMPOS DE OBRAS-PRIMAS


Nos meus idos de estudante, irmãos e irmãs usavam os mesmos livros. Era assim todo o ginásio e todo o científico. Um ia passando ao outro. Quem começava o 1º ano, usava o livro do irmão que ia fazer o 2º, e assim por diante. Mudar todos os anos os livros, como se faz agora, não é política pedagógica, mas política editorial. Não é necessidade educativa, é luxo de educação. Um comércio rendoso.

Pois bem. Nos meus idos de estudante, lá estavam a
Aritmética Progressiva, de Antônio Trajano, que a Livraria Francisco Alves, do Rio, lançou nos anos 40 e chegou a 87 edições. A famosa Crestomatia (tenho uma, bem conservada, de 1938), do professor Radagasio Taborda, que a Editora Globo, de Porto Alegre, lançou no início dos anos 30, atravessou gerações, proporcionando tudo ao estudante, desde o gosto da leitura dos bons escritores, o conhecimento gramatical, à sua educação literária.

Era o tempo da tabuada, do ditado, da sabatina, do exame de admissão (espécie de vestibular para sair do primário e entrar no ginásio). O professor entrava na sala, os alunos se levantavam, em respeito. Antes da aula, cantavam o Hino Nacional. Uma vez, castigado por indisciplina, tive de ler três vezes a História de Um Cão, de Luiz Guimarães. São 32 estrofes de quatro versos: “Eu tive um cão. Chamava-se Veludo: / Magro, asqueroso, revoltante, imundo / Para dizer numa palavra tudo / Foi o mais feio cão que houve no mundo.”

Da Aritmética, dei duro em cima de um problema simples. Era assim: um fazendeiro vendeu 3/8 dos seus carneiros, e logo depois comprou um certo número igual a 4/9 dos que lhe restaram e ficou então com 65 carneiros; quantos carneiros tinha ele antes da venda? Responda quem souber.

E da Gramática Expositiva, de Eduardo Carlos Pereira, uma das obras-primas da época (publicada em 1907, atravessou os tempos), lembro, em latim, da pergunta de Cícero a Catilina: -- Quousque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra?

PERISCÓPIO

***** Com tantos cabelos brancos, com tanta vivência acumulada, já estou em condições de dar razão a Oscar Wilde, na serenidade objetiva desta conclusão: “A tragédia da velhice é que continuamos a ser moços.”


***** Esses economistas de Lula fazem assim: botam um pé na geladeira, outro no fogão e daí tiram uma média para dizer que a crise, pra nós, é marolinha.


***** Um homem de negócios, meu amigo, me faz este desabafo, como síntese de longa experiência: -- No Brasil, para a oposição, o político ou é pederasta, ou é corno, ou é ladrão. Eu, graças a Deus, sou apenas ladrão.


***** Já associaram a popularidade à mediocridade. Pensando bem, sem mediocridade não há popularidade, visto que esta nada mais é, em sua essência, do que o gosto pessoal ajustado ao gosto médio da multidão.


***** A televisão, como divertimento, está lastimável. A tevê paga se repete exaustivamente. A tevê aberta, como se diz, exagera nos comerciais e fatura horrores. Ao cidadão comum, principalmente se gostar de cinema, resta uma vingança – o DVD.


***** Se fizessem um monumento a todas as constituições brasileiras e respectivas emendas reunidas, seria uma massa disforme, sem pé nem cabeça, com rastos de tanques e sinais de cusparadas.


***** O falsário português mudou todos os dados do passaporte roubado. Idade, raça, sexo. Mas não mudou a fotografia para não despertar suspeitas.