sábado, novembro 08, 2008

TEMPOS DE OBRAS-PRIMAS


Nos meus idos de estudante, irmãos e irmãs usavam os mesmos livros. Era assim todo o ginásio e todo o científico. Um ia passando ao outro. Quem começava o 1º ano, usava o livro do irmão que ia fazer o 2º, e assim por diante. Mudar todos os anos os livros, como se faz agora, não é política pedagógica, mas política editorial. Não é necessidade educativa, é luxo de educação. Um comércio rendoso.

Pois bem. Nos meus idos de estudante, lá estavam a
Aritmética Progressiva, de Antônio Trajano, que a Livraria Francisco Alves, do Rio, lançou nos anos 40 e chegou a 87 edições. A famosa Crestomatia (tenho uma, bem conservada, de 1938), do professor Radagasio Taborda, que a Editora Globo, de Porto Alegre, lançou no início dos anos 30, atravessou gerações, proporcionando tudo ao estudante, desde o gosto da leitura dos bons escritores, o conhecimento gramatical, à sua educação literária.

Era o tempo da tabuada, do ditado, da sabatina, do exame de admissão (espécie de vestibular para sair do primário e entrar no ginásio). O professor entrava na sala, os alunos se levantavam, em respeito. Antes da aula, cantavam o Hino Nacional. Uma vez, castigado por indisciplina, tive de ler três vezes a História de Um Cão, de Luiz Guimarães. São 32 estrofes de quatro versos: “Eu tive um cão. Chamava-se Veludo: / Magro, asqueroso, revoltante, imundo / Para dizer numa palavra tudo / Foi o mais feio cão que houve no mundo.”

Da Aritmética, dei duro em cima de um problema simples. Era assim: um fazendeiro vendeu 3/8 dos seus carneiros, e logo depois comprou um certo número igual a 4/9 dos que lhe restaram e ficou então com 65 carneiros; quantos carneiros tinha ele antes da venda? Responda quem souber.

E da Gramática Expositiva, de Eduardo Carlos Pereira, uma das obras-primas da época (publicada em 1907, atravessou os tempos), lembro, em latim, da pergunta de Cícero a Catilina: -- Quousque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra?

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Que saudade! ainda hoje guardo o livro Idioma pátrio Volume III,
Modesto de Abreu,
Companhia Editora Nacional.
Na primeira página desenhei um coração, lembrança de meu primeiro namorado.

6:51 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ah! bom, eu também me lembro de muitos livros, pois penei bastante. Repeti o ano várias vezes e sei decorado o nome dos livros adotados. Querem ver:

Título ..História do Brasil (curso superior)
Autor: Mário da Veiga.

Título: Súmulas de História Colegial para a primeira série colegial
Autor: Delgado de Carvalho

Título: Compendio de litteratura brasileira
Autor: Coelho Netto.

Título: Português Prático para a 2ª série do "colégio" (clássico e científico)
Autor: José Marques da Cruz.

Título: História do Brasil para a terceira e quarta séries ginasiais.
Autor: Tito Lívio Ferreira.

Título: Introdução moral e cívica para o curso primário com a constituição de 18 de setembro de 1946.
Autor: Gaspar de Freitas.

Título: Manual de Geografia Humana (para uso em cursos nas Faculdades de Filosofia)
Autor: Moisés Gicovate

Título: Didática mínima
Autor: Rafael Grisi.

Título: Química. ciclo colegial terceira série do curso científico.
Autor: Irmão Mário Marciano.

Título: Latínitas
Autores: Jorge Lyra e Luiz G. Barreto.

Título: O Idioma nacional.
Autor: Antenor Nascentes.

6:55 AM  

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