Quando menino, nunca tive uma. No Natal, minha mãe dizia que aquilo era presente de rico. Eu chorava e, um dia, ela também chorou. Meu pai, no entanto, tempos depois, eu já rapazola, me surpreendia com uma Raleigh “legitimamente inglesa” e novinha em folha, uma novidade na minha pequena Teresina. Foi um sucesso. Passei anos com ela, até ficar para minha irmã mais nova.
Pois agora o caseiro me diz, em tom dramático, que levaram a dele. Não sei explicar, mas algumas bicicletas já roubaram de pessoas que trabalharam em minha casa. Dezenas são roubadas por aí, todos os dias. Desde que apareceu, em 1816, pelas mãos do francês Joseph Niepce, até chegar aos pneus de John Dunlop, 16 anos depois, a bicicleta tem sido útil ao mundo inteiro, brilhando nas academias de ginástica, recomendada como exercício destinado à boa forma.
Carlitos fez o diabo com ela. Odylo Costa, filho, talentoso jornalista e escritor de saudosa memória, dizia que, ao morrer, levava duas frustrações: não falar inglês e não andar de bicicleta. Vittorio de Sica fez o mundo chorar com o seu clássico “Ladrões de Bicicleta” (1947), a história de um desempregado cuja bicicleta lhe é roubada no primeiro dia de trabalho. Sem ela, perderia o emprego. Uma obra-prima.
Acho que vou ter de arranjar um meio de comprar uma para o caseiro. Quem sabe, o cartão corporativo me ajude. Porque, sem ele, sem essa prerrogativa do querido Lulinha, não dá nem para encher os pneus carecas do velho carro.