sábado, maio 24, 2008

SAI O CANTO DO UIRAPURU, ENTRA O BERRANTE


Querem acabar com a Amazônia. O pecuarista, o agricultor, o latifundiário, o rei do gado. O governo olha, sacode a pança, balança a cabeça para os lados e deixa tudo pra lá, com criminosa indiferença. Todos sabem que a pecuária altera o sistema hídrico da região e que as pastagens alteram profundamente as microbacias das regiões onde estão instaladas.

Se a floresta protege os pequenos cursos d´água, as pastagens os expõem ao sol, à erosão e à força da água rolando sobre as trilhas que o gado inventa. Parece um assunto de menor importância, mas não é. Já fui três vezes à grande floresta. Uma das vezes, novembro de 1971, na companhia de vários coleguinhas da imprensa carioca, vi a serra elétrica derrubar uma castanheira de 60 metros de altura, na presença do presidente Médici, do ministro Mário Andreazza e de outros grandalhões da ditadura.

Era o marco inicial da construção da Transamazônica, uma megalomania estúpida que acabou em lama e jogou mundo afora bilhões de nosso pobre dinheiro. História conhecida. Agora querem trocar o verde, patrimônio da Humanidade, pelo boi, pelo pasto, pela soja. A conversão da floresta tropical por pastos aconteceu em menos de uma geração. Como o processo continua, e crescente, a próxima geração verá o planeta carne comer metade da Amazônia.

O berrante vai substituir o canto do uirapuru, que – segundo a lenda – quem o ouve é feliz para sempre.