domingo, maio 18, 2008

AMOSTRAS DA CIVILIZAÇÃO URBANA



O que nos penitencia dos pecados do poder é que, mesmo alçados a posições andinas, somos, no fundo, sujeitos simplórios. Somos todos JKs, que sempre dava um jeito, em qualquer cerimônia oficial, para tirar discretamente o sapato e aliviar a Nação de seus problemas. Simplórios, sim, mas com todas as veleidades inerentes aos subdesenvolvidos. A prova disso está no episódio que vou contar.

Dois engenheiros franceses, a serviço do governo brasileiro, foram à selva amazônica (que estão destruindo para acomodar o boi), na esperança de abrir novos horizontes para os motoristas de caminhão que fazem o trajeto. Acostumados ao desconforto das metrópoles, desprovidos da sua dose diária de poluição e entediados pelo déficit de decibéis peculiar à selva, os engenheiros pediram a uma velhinha em seu casebre de madeira no meio do caminho que lhes indicasse como chegar à cabana deles, onde dispunham de algumas amostras da civilização urbana: o computador portátil, a internet, o barbeador de pilha, a TV. Etc.

A velha, com aquele rostinho de maracujá de gaveta, limitava-se a acenar afirmativamente com a cabeça, como se aprovasse, apenas, a situação. Os franceses, porém, insistiram tanto que ela acabou tirando o pito da boca e, voltando a cabeça para dentro do casebre, soltou o berro: “Robespierre! Ó menino! Acode aqui os moços!”.

E eu pergunto: expliquem-me, por favor, quem teria tido a idéia de tocar a “Marselhesa” num forró de Jequié?