Machado, o mais puro autodidata
Neste ano do centenário da morte de Machado de Assis, vou escrever algumas vezes sobre ele. Acho que a data vai inspirar textos de meio mundo. Ele, o autodidata completo. Ele, que nos legou o exemplo supremo: tudo quanto sabia, devia a si mesmo. Não tinha sequer o diploma do curso primário.
É bom dizer que cada um de nós é consigo próprio que aprende, sempre que pretende aprender. Para isso, somos nós mesmos os nossos mestres. Tanto faz ser bacharel em direito, doutor em medicina ou engenheiro, como não ser nada, ou ter sido, para que emerja daí o escritor, o pintor, o músico, o escultor, com o pleno domínio de seu ofício.
Euclides da Cunha, logo após a morte do romancista e seu amigo, encontrou nos papéis dele muitas notas de leitura dos clássicos portugueses. O mestre copiava-lhes os trechos seletos, as frases, o emprego das palavras, ao longo de constante aprendizagem silenciosa, e foi isto que o elevou à condição de mestre de todos nós. Ao fim da vida, quando quis aprender alemão, estudou-lhe a gramática, repetiu-lhes os exercícios. Só não a dominou, para lê-la fluentemente, porque a morte lhe interrompeu a aplicação.
Não foi aluno de ninguém, mas de si próprio. Ninguém pôde exibir a glória de ter sido seu mestre.