terça-feira, março 27, 2007

SÓ MILAGRE...


Faça-se a transposição! Foi o brado retumbante que se ouviu do alto do Planalto, nos últimos dias. O grito é repetido há mais de um século, mas ainda hoje ecoa pelo nada, transpondo um céu de demagogia e falsas promessas. Faça-se! Faça-se! E quando se vai fazer, outro grito retumba: falta verba! falta verba! E a transposição se perde nas redes do velho pescador que espera pelo milagre desde os tempos do trisavô.

Os jornais confiam nas informações ditas oficiais e atacam nas manchetes, tipo “agora vai”. E não vai. Era melhor calar e deixar a primeira pá retirar o primeiro bocadinho de terra, do exato local onda o projeto dará o passo inicial. Daria, dizemos melhor, porque não vai dar. E se der, já se sabe, levará outro século para chegar ao fim. Nossos filhos não verão, como nossos netos. Etc. Há embromações eternas, e eternos governos sem palavra.

POBRES-DIABOS


As folhas informam que o governador Cid Gomes tem gasto oito vezes menos, no combate à pobreza, do que seu antecessor, Lúcio Alcântara, através do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop), em período equivalente. Ele descumpre, ao lado do irmão, Ciro, uma das promessas mais fortes durante a campanha. Dá-se, então, que o pobre-diabo, nesse desprezo, ficará mais pobre-diabo.

Não é bom começo. A pobreza é o resultado da concorrência trágica de muitos fatores: escassez de recursos, iniqüidade gritante na sua distribuição, rebaixamento da condição humana atingindo tais níveis que esvaziam a pessoa de qualquer possibilidade de auto-recuperação. O combate à pobreza é um dos deveres mais urgentes de um governante que se preze. Cid Gomes não se preza?

quarta-feira, março 14, 2007

REFORMA

Lula é um sujeito formidável. Vai mesmo fazer a tão sonhada reforma agrária. E começará pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo...

sábado, março 10, 2007

ROSA

João Guimarães Rosa gabava-se de escrever de pé, em seu escritório. Gostava muito de lápis, de cuja ponta cuidava com esmero. Antes de começar a escrever, dizia que era preciso “limpar o aparelho”. Assim chamava o trabalho prévio de rabiscar, escrever uma ou outra palavra, desenhar garatujas, até que o “santo” baixava e se punha a escrever febrilmente.

Sua concepção de literatura era meio mediúnica. Tudo já está escrito, dizia. O escritor é assim apenas um intermediário, escolhido para recolher o texto, quase psicografá-lo. Por isso mesmo não julgava as traduções de sua obra. Sustentava que, vertido para outra língua, um texto pode até ficar melhor. A tradução de Grande sertão: veredas é sabidamente insatisfatória.

Por que este “santo” não baixa em mim?

CANA

Lula topou tudo o que Bush lhe propôs comprar ou intercambiar. Mas Lula mudou de assunto quando o homem falou em “cana”. E até quis saber: “Por que não compra os nossos copos vazios?”

quinta-feira, março 08, 2007

NOMES

É pouco provável que hoje um pai, a menos que seja desnaturado, ponha na filha o nome de Urraca. No entanto, Urraca foi um belo nome em Portugal e de lá vieram várias Urracas para o Brasil. Quem está aqui há muito tempo procure na sua árvore genealógica e na certa arranjará uma Urraca instalada num dos primeiros galhos.

No Brasil, cresce a tendência de agredir as criancinhas com nomes ridículos. Formam-se às vezes de sílabas dos nomes paterno e materno e dão um resultado de matar. E até azar. Alceni será fusão de Álvaro com Cenira? Quando a criança chega aos 18 anos, pode requerer a mudança. Basta demonstrar que a toleima dos pais lhe traz problemas. Há tempo, soube de um Catacisco, filho de Catarina com Francisco. Era o primogênito.

Se vier agora uma menina, já tem nome. Mas Ciscorina se recusa a nascer.

sábado, março 03, 2007

Finalidade Farsante

Lula nos prometeu tempos de fartura, de vacas gordas, uma pela manhã, outra ao meio dia e outra à notinha. O perfume do esterco vai longe, atraindo milhões de moscas. Como o povo é chegado a uma autoflagelação, deu-lhe, de fome agradecida, milhões de votos para o segundo mandato. O picolé da bolsa-estudo engana a moçada. Se há alguma coisa que o brasileiro gosta, é ser enganado. Compra bilhete de loteria sorteado e se realiza em contos de vigário.

Dirão que somos o anti-Lula. Bom, somos contra tudo o que está aí. Vejam o PAC, um conjunto de planos estranhos para, na prática, resultar em tapas no rosto do povaréu, que ainda, muito católico, vira a outra face. Mas, o que eu quero mesmo é fazer uma pergunta – quem se responsabiliza pela corrupção, pelo desemprego, pela violência urbana, pelas crianças e mulheres assassinadas e estupradas todos os dias? Qual a receita do PAC para tudo isso? Verbas?

Mas vamos à pergunta -- quantas lágrimas um especulador de Manhattan ou um banqueiro suíço derrama por um menor assassinado no Brasil? Pergunto indignado. O que têm a ver banqueiros, especuladores e multinacionais com o sofrimento e a miséria de nossos pobres e o inferno das vidas nas grandes cidades brasileiras? A pergunta pode parecer idiota, mas é provocada pela flagrante injustiça social, o hiato entre os incluídos e os excluídos, a violência selvagem das grandes cidades, arrastadas em descida, pelo viés das barrancas espancadas de enxurros. São problemas gravíssimos.

Há nas teses da esquerda ilustrada uma vinculação entre a economia de mercado e a crise de valores. A busca do lucro, o estímulo ao individualismo, que estão na essência da economia de mercado, estariam também na raiz da desintegração dos valores. O governo de Lula insiste em apregoar prodígios, quando na verdade nos mantém, no listão da ONU, entre os países campeões de injustiças sociais deste planeta que o homem, enlouquecido, está destruindo, e já destrói tarde.

O PAC tem justamente esta finalidade sorrateira – desviar a atenção geral e trancá-la no banheiro...

quinta-feira, março 01, 2007

INGENUIDADE E PODER

Os antigos gregos, que também tinham eleições, não deixavam um candidato fazer campanha por um cargo qualquer. Consideravam isso desleal. Um candidato podia ser mais rico que o outro, ou melhor orador, ou mais poderoso política e econômicamente, mas não ser tão bom para aquele cargo quanto outros. Como se vê, o oposto do que ocorre no Brasil.

Os depositários do poder, no Ceará, desde a fase iniciada em 1987, Tasso-Ciro-Tasso-Tasso, têm uma disposição desagradável a considerar tudo o que não é eles é uma facção. Já dizia Jaime Balmes que “quando o poder dirige a mira ao egoísmo pessoal de quem o exerce, degenerou em tirania.” Evidente, não chegamos a tanto. Graças.

Ciro e Tasso, como se sabe, não queriam que Lúcio continuasse governador. Lúcio, portanto, para eles, é uma facção. Governador tinha de ser o irmão do Ciro, para ficar, como ficou, novamente tudo nas mãos do pequenino grupo que parece achar que o poder sem abuso perde o encanto. Esquecem, por outro lado, que o poder sem controle enlouquece. Vá lá. Isso é filosofia de almanaque.

Lúcio, na sua santa inocência, deve ter imaginado que talvez contasse com o apoio de Tasso e Ciro. Afinal, são amigos, mesmo que os chineses digam que só os amigos atraiçoam. Mas foi um erro confiar nos dois. Ciro é deputado federal e fez o irmão, Cid Gomes, governador, dando um belo pontapé no Lúcio que teve a coragem de desobedecer Tasso. Cid agora anda por aí montado no seu cavalo branco de Napoleão de Sobral.

O governador do Ceará é um seduzido pelo poder. Não vai na onda de livro do destino. O que tinha de ser, foi e será. Já trabalha pela reeleição em 2010. E Lúcio ingressou num tal de PR, já que Tasso praticamente o expulsou do PSDB por ousar desobedecê-lo. PR o pessoal do Palácio Iracema chama de Partido dos Recusados. E ninguém seguiu o ex-governador. Foi traído por todos. Ficou só com o filho, deputado federal Léo Alcântara, a caminho do abismo.