sábado, março 10, 2007

ROSA

João Guimarães Rosa gabava-se de escrever de pé, em seu escritório. Gostava muito de lápis, de cuja ponta cuidava com esmero. Antes de começar a escrever, dizia que era preciso “limpar o aparelho”. Assim chamava o trabalho prévio de rabiscar, escrever uma ou outra palavra, desenhar garatujas, até que o “santo” baixava e se punha a escrever febrilmente.

Sua concepção de literatura era meio mediúnica. Tudo já está escrito, dizia. O escritor é assim apenas um intermediário, escolhido para recolher o texto, quase psicografá-lo. Por isso mesmo não julgava as traduções de sua obra. Sustentava que, vertido para outra língua, um texto pode até ficar melhor. A tradução de Grande sertão: veredas é sabidamente insatisfatória.

Por que este “santo” não baixa em mim?