sábado, janeiro 29, 2011

INFORMANTE


Nos tempos de Zózimo Barroso do Amaral, durante sua temporada em O Globo, ele dava um furo atrás do outro. Muita gente se queixava pessoalmente a Dr. Roberto Marinho, o homem mais poderoso do país. Numa informação que baixava a lenha no Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda e barítono nas áreas preferidas de Verdi, Simonsen ficou furioso e foi se queixar a Dr. Roberto. Simonsen quase desmaiou quando soube que o maior informante do Zózimo era o próprio Marinho...

Qualquer fonte de credibilidade tem de pertencer ao poder. No poder, sabemos nós, jornalistas, é onde moram as melhores informações. Sabem quem é o grande informante das notícias exclusivas que vêm do Palácio Iracema? Não, não vou dizer, pois perderia uma das pouquíssimas que tenho.

ANIVERSÁRIO


Moisés convidou David para jantar, dizendo-lhe: “Poderás abrir tanto a porta do jardim como a da casa com o cotovelo.”

-- Por que com o cotovelo?

-- Porque certamente não virás aqui, no dia do meu aniversário, com as mãos vazias.

CASAMENTO


Um pai pediu a Shaw uma frase para oferecer à filha que ia casar. Ele riu e, mesmo com má vontade, escreveu: “Quando uma moça se casa, troca as atenções de muitos homens pela desatenção de um só.”

IGNOMÍNIA

Com todo direito à prioridade, Prudente de Morais, neto, o Pedro Dantas de tradição republicana, escritor, poeta bissexto, com inacreditável fôlego para levantar temas, como a exigência da maioria absoluta para a eleição do presidente da República e infernizar a vida do presidente JK com a doutrinação golpista, que crepitava como fogo em mato ralo nas pontas radicais dos quartéis.

Mais tarde, um dos mais atuantes articuladores do golpe contra o vice-presidente João Goulart, que assumiu a presidência com a renúncia de Jânio, Prudente desencantou-se da “redentora” de 64 e, na presidência da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), teve atuação destemida na defesa de jornalista torturados e mortos (lembrai-vos de Herzog) na ignomínia dos DOI-CODIs.

LUGAR ESTRANHO


Quando o Congresso entra em recesso, a mídia perde grandes espaços, preenchidos pelas editorias de cidade, esporte, polícia, drogas, lixo etc. O Congresso fechado, a imprensa fica sem ter como falar de suas pilantragens, que são muitas e de arrepiar.

Isso não nos impede de dizer que o Congresso Nacional é um lugar bem estranho. Um exemplo? Alguém se levanta e fala e não diz nada. Ninguém presta atenção e a maioria dos parlamentares fica horas no celular. Curioso é que ninguém presta atenção e todo o mundo discorda. Não é um lugar estranho?

IMORALIDADE


Está na moda, e cada vez mais com força, críticas ásperas à aposentadoria dos governadores. Lembro que Ciro Gomes era governador, quando Itamar o convidou para assumir o ministério da Fazenda. E lá foi ele. Seu vice era Lúcio Alcântara, que não pôde assumir porque era candidato ao Senado e ficaria inelegível.

Muito bem. O deputado Chico Aguiar era o presidente da Assembléia Legislativa. Portanto, em razão de uma hierarquia constitucional, ele assumiu o governo. Passou lá apenas 84 dias e se aposentou como um governador de quatro anos de mandato. Legal? Sim. Cumpriu a lei. Imoral? Totalmente. Absolutamente.

Está na hora de uma emenda constitucional acabar com essa patifaria, esse desmoralizante assalto ao Erário. Há casos, publicados nos jornais, de governadores aposentados por 10 dias de governo. O assunto tem sido martelado, pois se trata de um ato indecoroso. É demais, é demais. Todos deviam ser apedrejados como prostitutas bíblicas.

FADOS


Gosto muito de fados. Tenho-os interpretados pelos melhores fadistas de Portugal, a começar da inesquecível Amália Rodrigues. Chama-me a atenção um dos mais belos deles, Há uma música do povo, com letra de Fernando Pessoa (1888-1935), o mais genial poeta português, depois de Camões (sem falar em seus heterônimos). A música é de Mário Pacheco, dono da Casa do Fado, uma das mais procuradas em Lisboa. A interpretação é de Mariza, cantora jovem e de voz lindíssima. No Google dá pra ouvi-la. Vejam a letra de Pessoa:

Há uma música do povo

Nem sei dizer se é um Fado

Que ouvindo-a há um ritmo novo

No ser que tenho guardado


Ouvindo-a sou quem seria

Se desejar fosse ser

É uma simples melodia

Das que se aprendem a viver


Mas é tão consoladora

A vaga e triste canção

Que a minha alma já não chora

Nem eu tenho coração


Sou uma emoção estrangeira

Um erro de sonho ido

Canto de qualquer maneira

E acabo com um sentido!

LUTA POLÍTICA


“Eu sou o maior ficha limpa do Brasil”, bradou Paulo Maluf há algum tempo, com a maior cara de pau. Cabe dizer o seguinte: em política, as expressões veementes não coincidem com o sentido que lhes dá o dicionário. Estão condicionadas ao momento da luta.

Se não fosse assim, um político da situação não poderia ter como amigo um político da oposição. Visitam-se, telefonam-se, tomam juntos a cervejinha do clube, mas, na hora da votação, um vota contra o outro. Maluf sabe disso. Os insultos, na luta política, devem ser capitulados como acidentes de trabalho, de que o melhor remédio é o Tempo.