O Perigo Que Mora Nos Palácios
Já em 1930, o ideal de modernidade era tão forte que tinha até o “Hino da Revolução” composto por Villa-Lobos. Os anseios modernistas, repelidos na década de 20, encontravam resposta política que os acolhia. Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), Graça Aranha, Manuel Bandeira, Oswald e Mário de Andrade, Oscar Niemeiyer, Lúcio Costa tinham vez. Depois, estes se juntariam, sob as asas lúcidas de Gustavo Capanema, no prédio do Ministério da Educação, com Portinari e Bruno Giorgi, nos painéis e na escultura.
As reformas sociais foram tentadas. O verde-amarelo renascia na tese nacionalista de governo – com todos os perigos e ambigüidades que a palavra continha nos anos 30. Como acabou esse idealismo, passando pelos 18 do Forte até a Coluna Prestes? Numa ditadura, a de Getúlio. São os perigos dos palácios, já desvendados por La Fontaine, quando a Aranha diz “quero ir para o palácio” e a Gata responde “eu não, é perigoso”.
A revolução – ou contra-revolução, como diz Jarbas Passarinho – de 1964 também invocou a modernização. A necessidade de o país acompanhar os passos do mundo. Como terminou? Com a desagregação de sua estrutura política, que passou a ser o maior e o mais grave problema do Brasil. Uma democracia precisa de instituições fortes.
Alguns políticos desagregaram o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, que não se entendem e até se enrolam um no outro. Há os que tratam a oposição de golpista, fazem carinhos a Hugo Chaves que aproveita a democracia para acabar com a democracia. Agora, mais uma vez, o ideal do Império, de 1930, de 1964. Necessidade de um grande sistema político capaz de operar uma grande democracia.
É preciso aproveitar as eleições recentes que deixaram muitas lições, e mexer na legislação eleitoral e no sistema de representação, sem o que a Aranha e a Gata acabam indo morar no Palácio, levando veneno e um pouco de dengue aos maus brasileiros que fazem de Brasília a casa da sogra.