CÃES HUMANOS, FLORES E ESTRELAS
Com a volta de Collor às notícias, lembrei de um dos seus ministros, salvo engano o Magri (pasta do Trabalho). Ficou famoso com uma frase. Foi surpreendido levando seu cachorro, um Labrador, ao veterinário em carro oficial, com toda pompa. Bombardeado pelos jornais, justificou-se: “O que tem isso demais? Cachorro também é humano.”
A frase é de alta indagação. Implica elucubrações filosóficas com incursões no campo da origem das espécies. Tem gente que não gosta de cachorro, mas é uma minoria. Em cada dez, oito gostam, segundo pesquisas sérias. Aristóteles foi quem primeiro definiu o homem como animal racional. Daí Lineu classificá-los de “homus sapiens” e os cachorros de “canis familiaris”.
Bom, eu não sou muito chegado a cachorro. Minha mãe não gostava de cachorro nem de gato. Preferia seus pássaros, papagaios, xexéus, sabiás. Tinha um sujeito só para cuidar deles. Eu tolero cachorro, mas não em apartamento. É ruim pra gente e para o animal, mas tenho um York que nos dá problemas e muito trabalho No sítio ou na casa de praia, vá lá. Dá para cuidar bem deles.
Na literatura e nas artes o cachorro está consagrado. Na Bíblia, é o companheiro do filho de Tobias. E vejam: Rômulo e Remo mamaram numa cadela, símbolo de Roma. E Cérbero, a criatura de Hércules, o cão mais famoso da mitologia, tinha rabo de cobra, de cachorro e de leão. Era cruel e fingido, comia a alma dos confederados, porteiro dos infernos. O velho cão de Ulisses, Argo, ao vê-lo regressar, morre de alegria, nos diz Homero. Graciliano Ramos imortalizou a cadela “Baleia”, na página memorável de sua morte. Carlos Heitor Cony dedica um dos seus livros a “Mila”, a cadelinha que lhe fez companhia por 13 anos. Josué Montello homenageia seu gato, que levava horas ouvindo Mozart.
O nosso Juscelino Kubitschek, ao fotografar-se com Adolfo Bloch e seu cão, não resistiu e disse, humildemente, que ali estavam dois amigos, “em cujos corações só há preces.” A família Obama escolheu, para morar na Casa Branca, um animalzinho da raça Cão D´Água Português, embora as pesquisas só apontassem um Poodle. O tema é fascinante.
Não só o cachorro. O humano também. Nos EUA, reza a lenda, na escala hierárquica da casa, o primeiro é o cachorro, depois a mulher, o jardim, o computador, o som etc. e fechando a lista, o homem. E eu me pergunto: animais e plantas são humanos? São Francisco tratava as aves de “irmãs”. O padre Vieira falava aos peixes, citando São Mateus, em latim: “Vos estis sal terrae.” Minha avó conversava com as plantas e ria, feliz, cuidando delas. Bilac não ouvia e entendia estrelas?
1 Comments:
O Gen. Figueiredo disse preferia sentir o cheiro dos cavalos do que o cheiro de gente. O cavalo animal universalmente conhecido, desde os tempos de Nabudonosor e dos povos indo-europeus Na Mesopotâmia, durante o terceiro milênio, a arte o imortalizou, nas esculturas assírias de Ur. No Egito serviu ao Faraó, foi utilizado para perguir os desgraçados dos hebreus na fuga para a Terra da Promissão(Êxodo 14,9).
Quando se fala em cavalo é necessário profundeza filosófica, se aprofundar em Darwin, pois o cavalo foi e continua sendo o grande companheiro do homem. Não foi sem razão que mereceu uma verdadeira apologia por parte de Jó, quando diz que “o cavalo salta como um gafanhoto, relincha com majestade é terror, rir-se do medo, naão recua diante da espada”(Jó 39, 19-25). Por isso o cavalo foi considerado entre os hebreus símbolo de poder.
Ótimo, sou muito apegado a cavalo. A avó do meu avô não gostava de galinhas, patos ou perus. Tinha mania por primatas não humanos. Preferia macacos, sagui, micos, soinho e, até, do bicho-preguiça que, embora não tenha nenhum parentesco com o macaco, parece.
Na literatura o cavalo é retratado tanto quanto nas artes. Incitatus era o nome do cavalo Imperador Romano Calígula. Incitatus tinha cerca de dezoito criados pessoais, era enfeitado com um colar de pedras preciosas e foi nomeado senador. Bucéfalo era o cavalo de Alexandre, rei da Macedônia. Na Guerra entre gregos e troianos, usaram o Cavalo de Tróia, como estratagema de guerra. Na mitologia havia o Centauro e o Unicórnio. Sem se falar no Pégaso, símbolo da imortalidade. O cavalo, o Roncinante, de Dom Quijote, foi imortalizado, por Cervantes. Até hoje se discute se o cavalo de Napoleão era branco. Ou se o Caramelo, de D. Pedro I, era uma mula ou um velho pangaré desdentado.
Getúlio Vargas recebeu o apelido de “cavalo de tróia paulista”. Como o cavalo sempre teve uma imagem relacionada com o poder, a violência e foi muito utilizado para fins bélicos, então ele é representado através de uma simbologia apocalíptica. Só então agora se pode compreender o motivo pelo qual o Cristo cavalgou num jumentinho, por ocasião de sua entrada em Jerusalém. Jamais o príncipe da paz poderia montar num cavalo, símbolo de guerra.
Tem-se muito o que falar sobre cavalos, hoje em dia, pois existem muitos centauros vagando por aí. Monstros fabulosos, metade homens, metade cavalos soltando cóice por todos os lados. O assunto é muito profundo.
Não só os cavalos. A humanidade também. Finalmente, o “equus”, por magnifícos feitos e efeitos, principalmente nas brasileiras, não poderia ser encerrado na pequenez desse nome. Assim como hoje, os romanos da antiguidade, tinham aversão a nomes pequenos, por isso, talvez a mudança para “caballus” teve maior aceitação. Pelo fato também que o nome “caballus” ser mais eufônico, diferente do “equus”, de difícil pronuncia, por conter a sequencia /u/u/, de abertura mínima, em hiato que possivelmente se transformaria em ditongo, resultando em nome dissilábico. Mas, eu particularmente, prefiro “equus”.
Postar um comentário
<< Home