domingo, janeiro 27, 2008

DEUS

A bonita repórter me pergunta em que ponto reconheço ou não reconheço Deus. Bem, acho que Deus é um romancista linear, quando nos dá o nascimento, a infância, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte. E até hoje, ao que me consta, ainda não mudou de técnica nem de processo.

SENHOR


E muito a propósito, eu estava, um dia, nos bastidores da Globo, ouvindo uma entrevista de Drummond. A repórter, linda que só, insistia em tratar o poeta de “senhor”. E era “senhor” pra cá, e era “senhor” pra lá. De repente, o grande Carlos Drummond de Andrade pediu licença e reprovou de improviso:



Não me chame de senhor,

Que eu não sou tão velho assim,

E a seu lado, meu amor,

Não sou senhor nem de mim...


PREVISÃO

Luiziane Lins anda a dizer que ganha a eleição logo no primeiro turno. Devagar, loura. O santo é de barro. E lembre-se do velho Churchill: “Ter talento político é saber prever o que vai acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo mês, no próximo ano – e saber, depois, explicar por que nada do previsto aconteceu.”

SAUDADE

Certa vez, mexendo em livros, achei esta frase sem achar o autor: “Pior do que ter saudade é não ter do que ter saudade.” E é verdade o que diz este primor de frase. A saudade não pesa, não ocupa espaço, e é de uso privativo. As melhores saudades são aquelas a que está associada a pessoa amada. Pedem silêncio. Silêncio de nós mesmos.

FUGA

Que droga! Só me têm chegado notícias de que a morte anda ceifando agora minha geração. Vou mudar de penteado, para ver se ela não me reconhece.

TRIUNFO

Acho que era Tom Jobim. Ele costumava dizer que, no Brasil, o triunfo é um insulto pessoal. Pois não é que é mesmo?

CAPITU

O nome de fato não é Capitu, forma reduzida que Machado utiliza em “Dom Casmurro”. Uma única vez, no capítulo XIV, o nome aparece na forma completa, quando a menina, já de namoro com o narrador, escreve o nome dele e o dela, com um prego, no muro do quintal – Bento e Capitulina.

AUTODIDATA

Cada um de nós, escritores, é um autodidata, mesmo quando pode exibir seu anel de doutor. Não foi por ter sido médico que Joaquim Manoel de Macedo escreveu “A Moreninha”. Nem tampouco por ter se formado em Direito que José de Alencar escreveu “O Guarani”. Qual o título de Cruz e Sousa ligado à sua obra poética? Não foi por ter estudado em Coimbra que Gonçalves Dias escreveu o “Y Juca-Pirama”. Assim como não foi o diploma de farmacêutico que fez de Drummond o grande poeta do Modernismo. Só os bobos não pensam assim.