CORAÇÃO QUE BATE FORTE
Segundo meu datafolha, sou 100% nostálgico, com pouca diferença para mais ou para menos e tecnicamente empatado. Em nenhuma pesquisa, apareço como saudosista, que é outra coisa, santo de outra capela. Imagino ter sido eu algum tipo de museu num mundo qualquer, milênios atrás, quando os humanos podiam ser qualquer coisa, até sapo de lagoa, o velho cururu.
Por que museu? Porque vivo do passado, e quem vive de passado é museu, conforme uma muita antiga filosofia de pára-choque. Não consigo me desgarrar do passado, e quanto mais distante, melhor. As saudades da infância me atormentam, e ainda outro dia caí na besteira de reler as primaveras dos oito anos de Casemiro, tive de agüentar firme para não chorar.
A poesia me pegou, com sua singeleza, ingenuidade, sentimentalismo exagerado, canto do amor travesso. Então doeram de saudade a imagem de meus pais, meus irmãos, cenas da vida familiar, o casarão onde morávamos, belo, grande, piso de madeira nobre, telha do Pará, rodeado por uma meia lua de árvores frutíferas de muitos galhos carregados e passarinhos livres e felizes.
A esta altura da vida, ainda sinto que me acompanha, como um acalanto longínquo, o rangido de minha rede piauiense, que vem e vai, vem e vai, no gancho de ferro dos armadores, imitando um grilo preguiçoso que não se cansasse de repetir o mesmo rem-ram, rem-ram, querendo adormecer-me. Nas minhas madrugadas infinitas, sou eu que vou buscá-lo nos guardados da memória, e ele me reflui à consciência, transformado em música da infância.
O passado é um cadáver amarrado aos pés, pelo menos o meu passado sentimental. Não consigo me livrar dele, como um segundo coração que bate
1 Comments:
Rapaz, todos nós gostamos de relembrar o passado. Acontece que na atualidade, alguns bestas querendo dar uma de modernistas dizem que são de vanguarda. Tudo mentira. Se apegam no passado como todos nós. Prova disto é a imensidão de livros que são lançados cuja temática é o passado.
Ainda por cima, apareceu um conhecido sociólogo da UFC, dizendo que deveríamos ter saudade do futuro. Que coisa mais absurda! Em busca de novas teórias, a tese esquipática do professor é cômica. Como irei ter saudade dos meus 80 anos se eu ainda tenho 30 anos. Que besteira, meu Deus!
Postar um comentário
<< Home