Ladrão da Honra Alheia
O episódio é conhecido, e ainda assim não lembro com quem foi. Deu-se que Carlos Lacerda (1914-1977), líder da UDN na Câmara dos Deputados, na década de 50, em forte troca de desaforos com um adversário político, foi tratado de “Vossa Excelência é um ladrão”. Lacerda pergunta: “Eu ladrão?” E ouviu: “Sim, ladrão da honra alheia”. Lacerda riu e observou: “Bom, então nada tenho a roubar de Vossa Excelência”.
Bela figura, voz baritonal, orador incomparável, a figura alta, a entoação perfeita, a fluência da palavra, a gesticulação apropriada, o poder do tom lírico ou da veemência acusativa, convicto, apaixonado, transfigurado, era assim Carlos Lacerda, cuja biografia, A Vida de Um Lutador, do historiador norte-americano John W. F. Dulles, lançada em dois volumes, venho lendo e relendo. Sou um lacerdista total, desde os tempos do velho Rio de Janeiro, quando acompanhei a derrota do candidato dele para sucedê-lo no governo do Estado da Guanabara, o professor Flexa Ribeiro, para o embaixador Negrão de Lima. Grandes figuras, tempos admiráveis!
Para quem não sabe, o título desta coluna foi tirado de uma obra dele, com permissão do filho, Sebastião, dono então da Editora Nova Fronteira, fundada por ele, quando lhe roubaram os direitos políticos. Todos já se foram. Eu estou aqui para lembrá-los e louvá-los.
A pena do jornalista Carlos Lacerda, a serviço de sua astúcia política, poderia ter competido com a língua de famosos maldizentes como Talleyrand ou Rivarol, terrível com Mirabeau, por exemplo, ao afirmar que o famoso tribuno era capaz de tudo por dinheiro, até mesmo de uma boa ação. Lacerda gozou de fama aproximada, na causticidade com que zombou de seus contemporâneos.
1 Comments:
Carlos Lacerda, cujo nome de batismo era Carlos Frederico Werneck Lacerda, uma das figuras mais interessantes desse país. Puxou o pai, Maurício Paiva de Lacerda, grande tribuno. Assim, Carlos Lacerda herdou a força da verve e da oratória. Foi o grande opositor de Getúlio Vargas à campanha eleitoral de 1950, e, durante o mandato de Getulio até o ano 1954. Sofreu o famaso atentado da rua Toneleros, no qual morre o Major Rubem Vaz. Mais tarde, veio o suicídio de Getúlio Vargas, então, devido a grande comoção popular, Carlos Lacerda deixou o país.
O povo brasileiro precisa conhecer mais sobre essa figura esquipática e, ao mesmo tempo, carismática, que foi carlos Lacerda. Precisaria eu, Torquato Prisco, mais de 1000 páginas só para traçar o perfil de Carlos Lacerda.
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