A OBSESSÃO DAS SIGLAS
O neologismo, entre nós, que alguns puristas interpretam como um palavrão, surge espontaneamente. Além de gíria, um dialeto à parte, temos a obsessão das siglas que apareceram com o saudável propósito de simplificar a entidade ou instituição de nome quilométrico.
Foi uma medida econômica que se impôs muito antes da ditadura dos economistas e depois degenerou por completo. Como jornalista, durante muito tempo aplicado a questões de texto, entendo até hoje que mesmo a sigla mais popular deve ser traduzida logo na sua primeira citação no noticiário de rotina. Parto do princípio otimista de que, a cada 24 horas, pode estar pintando um novo leitor, sem nenhuma obrigação de saber a quantas andam as combinações e códigos de palavras adotados, em acordo tácito, entre editores e consumidores de jornais.
Há muita coisa a confundir os incautos. Se você disse, por exemplo, a palavra Abel, os iniciados no catecismo se lembrarão daquele ingênuo irmão da Caim; no entanto, Abel é Associação Brasileira de Educadores de Lassanlistas.
Aqui, no Ceará, centro do universo, temos siglas as mais escandalosas possíveis. Vejam estes exemplos: Admmece, Corece, Fcauto, Fenabrave, Glomec, Imparch, Lubinor, Padetec, Seitec, Unisorv, etc. e etc. Criou-se, assim, uma linguagem cifrada que se ramifica pelas seções dos jornais. Antigamente, eu só não entendia os turfistas, mas a cada dia me sinto mais limitado em meus conhecimentos vocabulares.
Quando digo que alguma tarefa está “a cargo” de alguém, qualquer brasileiro, menos os goianos, pode entender: para os goianos, a cargo é Associação de Crédito e Assistência Rural de Goiás. De onde fala? Da Acargo. Que horror!
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