ROSA, FAREJANDO TUDO
Pode-se comemorar, agora, dia 27, o centenário de nascimento do mineiro Guimarães Rosa, que morreu do coração em 1967, aos 59 anos, no Rio, três dias depois de assumir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras. A coincidência fica por conta de ele ter nascido no mesmo ano em que morreu Machado de Assis, nosso escritor maior.
Ledor de Rosa, aproveito para dar um conselho aos que pretendem mergulhar na obra do autor de Grande Sertão: Veredas, uma das suas criações mais conhecidas: preparem-se primeiro para ler esse escritor, homem do campo, farejando a terra, os ares, os bichos e, acima de tudo, o homem. Ninguém tem a obrigação de entender o que ele diz.
O que dificulta o acesso à obra de Rosa, e a não poucos afasta ou choca, de modo irreconciliável, é a sua linguagem. Muitos consideram seus livros ilegíveis, esotéricos. Em verdade, é desses escritores que exigem imaginação poética a quem os lê. Na ânsia de exprimir experiências e sensações irredutivelmente pessoais, o escritor-poeta se vê obrigado a reavivar os elementos idiomáticos viciados e gastos pelo uso cotidiano. Neste empenho, prefere a maioria ficar num meio-termo e neologismos morfológicos ou semânticos, de metáforas renovadoras ou combinações inusitadas de palavras.
Enfim, Rosa não é para qualquer um. Joga com o arcaico e o moderno, o erudito e o popular, o nacional e o estrangeiro, o vulgar e o científico, o nobre e a gíria. O novelista entrou corajosamente por um caminho novo, indiferente à celeuma que a sua audaciosa solidão artística levanta até hoje. Tive de me preparar para ler João Guimarães Rosa.
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