MACHADO, LIÇÃO CRUEL
Eu avisei. Neste ano do centenário do nosso escritor maior, muitas vezes vou falar nele. Se tiver tempo e espaço, mais de muitas vezes. Da pena de Machado conheço, por exemplo, uma das mais pungentes lições da condição humana, que é certamente a do apólogo do almocreve.
Afrânio Peixoto, inspirado nesse apólogo, deu-lhe uma dimensão nova, num dos seus romances. Ele encontra um mendigo e ficou com pena de haver no mundo alguém infeliz. Procurou um níquel no bolso, tinha apenas uma moeda de prata, grosseira e pesada. Sem se deter, deixou-a cair na mão estendida e foi embora. Alguns passos adiante, ouviu um tinido metálico na pedra e, curioso, resolveu olhar: era o mendigo, desconfiado da generosidade, que ensaiava a moeda na calçada...
Ainda assim, a lição mais cruel é a de Machado.
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