sábado, fevereiro 05, 2011

CAETANO


Gosto de repetir o episódio. No rigor da ditadura iniciada em 64, estavam presos no DOI-CODE da Barão de Mesquita, Caetano Veloso, Carlos Lacerda e Mário Lago. Aliás, por qualquer motivo eles e tantos outros eram presos e soltos seguidas vezes.


Passavam o dia conversando sobre faisões, uma das paixões de Lacerda. De repente, entra um tenenteco daqueles arrogantes, arrastando a própria insignificância. Passou a implicar com Caetano, em tom de zombaria, até que perguntou:


-- Olha aqui, “seu” Caetano, ouço dizer lá fora, com meus colegas de farda, que você é veado. Aqui pra nós, sinceramente, o senhor é mesmo veado? Pode se abrir: é veado?


Com calma, ajeitando o vasto cabelo, rindo com o canto da boca, Caetano coçou a cabeça, olhou para o Mário Lago e para o Lacerda, cantarolou meio sem jeito e matou a mosca com impressionante cinismo:


-- Eu, tenente, veado? Que é isso! Nada de veado. Sou apenas civil...