ABASTECIMENTO
Estamos sem caju, e estamos sem milho. Falam que vamos ter de importar milhões de toneladas de um e de outro. Mas isso é antigo, e a gente passa por cima. A primeira grande crise de abastecimento, documentada no mundo, está no Gêneses, quando José, fugindo de seus irmãos, desvenda no Egito o sonho do faraó: “Sete anos de vacas gordas, sete anos de vacas magras.”
E vaticina: “Os anos da abundância serão esquecidos pelos terríveis anos de escassez e fome.” E criou a doutrina do “estoque estratégico.” Guardar para os momentos de falta e regular a oferta e a procura, como nos ensinam as formigas, feitas por Deus antes do homem. Devemos importar soja, trigo, milho, arroz e castanha.
O problema nos leva a unir esforços num ano de vacas magras. A agricultura, aqui e no mundo inteiro, é complicada. E como começamos com José, terminemos com ele. Antes de partir para o Egito, Israel o chamou e lhe pediu: “Vai ver como está o gado e vem me dizer.”
Mas para misturar castanha, milho e poesia, é bom salientar que a pior “parte neste latifúndio”, lembrando João Cabral, está com o Nordeste. Aqui, crise agrícola é desgraça mesmo. Atinge em cheio, porque está nesta região a maior pobreza rural do país. As consequências se estendem ao social, beirando a tragédia. A fome está presente. Dieta de farinha e água. Arroz e rapadura. Desespero. Conjuga-se nesse quadro o peso dos séculos, o solo, o clima.
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