sábado, novembro 20, 2010

NOITE ESTRELADA


Já decidi: vou esperar o Natal – data chatíssima – ouvindo música. Já separei o CD da Nona Sinfonia, que uma das filhas me deu já como presente de festa. Pretendo alongar-me no sofá, neste canto da sala. Aos poucos, de início baixa, quase inaudível, a música vai crescendo, e encherá o apartamento.


A música me faz bem. Sinto que me desangustia, atenuando a depressão em que resvala com a leitura dos jornais. Beethoven vem me buscar ao fundo do poço. E só aí poderei olhar a noite estrelada. Depois eu fecho os olhos e fico a ouvir Sonata ao Luar. Demais, não?

Então vamos a Amália Rodrigues, uma das minhas paixões. E sinto toda a emoção da fadista maior em Nem às paredes confesso e Ai Mouraria. Uma vez, em Lisboa, passei quase uma noite inteira a ouvir fadistas famosas, aplaudindo Coimbra: “Coimbra onde uma vez / Com lágrima se fez / A história dessa Inês / Tão linda!” E um fado que dizia: “Somos dois gritos calados / Dois fados desencontrados / Dois amantes de domingo”.