sábado, março 08, 2008

ANAGRAMAS


Conhecem o adjetivo palíndromo? Certamente. É uma das curiosidades do nosso idioma. É a palavra, número ou frases que se podem ler indiferentemente da esquerda para a direita e vice-versa, sempre com o mesmo sentido: -- osso, 63736, orava o avaro. Etc. Vamos ver o menino que brinca de desarticular as palavras.

No fundo, um escritor é um sujeito que pela vida afora continua a mexer com as palavras. Pára diante delas, estranha esta, questiona aquela. O menino virava a palavra pelo avesso e se encantava. Saber que a leitura pode ser feita de trás pra diante é uma aventura. E às vezes dá certo. No conto “Satarsa”, de Julio Cortazar, a palavra é “roma”. Lida ao contrário, também faz sentido. Deixa de ser “roma” e vira “amor”.


Para o leitor adulto e apressado, isso pode ser uma bobagem. Para o menino é uma descoberta fascinante. Olhos curiosos, o menino vê a partir daí que o mundo pode ser arrumado de várias meninas. Não só o mundo das palavras. É a partir dessa possibilidade de mudar que o mundo se renova. E melhora. Ou piora. Não teria graça se apenas melhorasse. O risco de piorar é fundamental na aventura humana.


Mas voltemos ao menino de “Catarsa”. No embalo das palavras, vou me deixando arrastar de brincadeira, que nem o menino do conto. Um dia ele encontrou esta frase: “Dábale arroz la zorra el abad”. Em português, significa: “O vigário dava arroz à raposa”. Soa estranho isso, não soa? Mesmo para um menino aberto ao que der e vier, a frase é bastante surrealista. Um vigário e uma raposa. Na fábula e na vida real, a raposa é espertíssima. Será que come arroz? Não importa.


O que importa é que a oração em espanhol pode ser lida de trás pra diante. E fica igualzinha: “Dábale arroz la zorra el abad”. Pois este palíndromo não só encantou o menino, como hoje encanta qualquer escritor que se preze. Fica visto que as palavras podem se relacionar de maneira diferente. E mágica. Falar ao revés. Tudo isso para chegar ao que eu queria: ando tentando uma série de anagramas com o Brasil de hoje. Quem sabe, virando pelo avesso, a gente acha sentido no governo de Lula?