Em qualquer tratado de moral, os humoristas estão na primeira fila dos deveres. Deles, tenho um monte de livros. Millôr, Max Nunes, Stanislaw Ponte Preta, Fernando Veríssimo, Chico Anísio, Barão de Itararé e outros. No tempo de Getúlio Vargas, o Barão – Aparício Torelly (1895-1971), gaúcho de São Leopoldo – sofreu o diabo. Divertiu o país por mais de 50 anos com sua graça ferina. Intitulou-se duque. De duque rebaixou-se, “como prova de modéstia”, a Barão de Itararé, a batalha que não houve.
Foi vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Comunista, que logo depois teve o registro cassado pelo TSE. Em conseqüência, perderam o mandato todos os seus representantes, inclusive 14 deputados federais (entre eles, Jorge Amado e Carlos Marighela) e um senador, o grande brasileiro, Carlos Prestes. Na velhice, cabelos brancos, longos, caídos nos ombros, o Barão enveredou pela ciência, inoculando cobaias ou olhando por um microscópio, tentando descobrir a cura da febre aftosa.
Todos se inclinavam a ver naquilo uma nova pilhéria do Barão. Em dezembro de 1971, numa tarde de chuva miúda, ele foi sepultado no João Batista. Recordo o episódio para dizer: a morte de um grande humorista desperta na gente uma reação contraditória: ao sentimento de consternação, alia-se um sorriso inevitável, que nos sobe ao rosto com a memória de suas pilhérias mais felizes.
Quando um dia lhe perguntaram por que deixara crescer a barba, o Barão explicou: “Se eu não deixasse, filho, ela cresceria sozinha...”
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