CORRA, NÃO MATE, NÃO MORRA

Quando vejo a violência estúpida nas estradas, lembro-me do ex-ministro Armando Falcão. Eu fui almoçar com ele, em sua bela fazenda “Massapê Grande”, em Quixeramobim. Grande conversador, bem informado, passei o dia lhe ouvindo. Ministro da Justiça duas vezes, uma no governo de JK e outra no governo Geisel (que como presidente foi visitá-lo na fazenda), Armando faz parte da história do Brasil, inclusive como deputado federal e candidato derrotado ao governo do Ceará, dos muitos episódios que ele conta no livro autobiográfico “Tudo a Declarar”.

Sua fazenda, bem cuidada ao extremo, é secular, patrimônio da família, em estilo colonial, piso de madeira encerada, toda pintada em azul e branco, com capela e lindas árvores. Uma delas com placa, uma tamarindeira de 112 anos. Um aeroporto de 800 metros de comprimento, todo em asfalto, facilita o acesso aos muitos amigos que o visitam, procedentes de vários pontos do país. (Sei que hoje não deve ser mais assim. A velhice bateu-lhe à porta, sua importância política passou e grande parte dos amigos já morreu).

Toda essa introdução para contar o seguinte. Na hora de voltar para casa, no automóvel, Armando Falcão puxou conversa com o motorista e fez uma observação da qual jamais vou esquecer:

-- Olhe aqui, amigo. Até os 80km, o carro pertence ao motorista. Aos 100km, o motorista pertence ao carro, e acima disso os dois pertencem ao Diabo...