Prova de Existência
Fui fechar um negócio. Arrumei a mala de documentos. CPF, identidade, Pis, Pasep, cartão de crédito, cheques, passaporte, vale-transporte, SPC, vale-refeição, habilitação, FGTS, carteira profissional, título de eleitor, certificado de eleitor, certificado de reservista, certidão de nascimento, certidão de casamento, comprovante de residência. Tem mais? Ora se...
Vem do berço, e aí somos nascituros. Quando a morte chega, viramos féretros, passando pelo atestado de óbito. Se casamos, somos cônjuges. Solteiros, celibatários. Nos bancos, além dos juros, nos atacam de inadimplentes, sacadores, endossantes, tomadores. Etc. No edifício, chamam a gente de condômino, ou inquilino, ou locatário. Poeta é tudo, vate, menestrel, bardo, trovador, maluco.
Ou seja, pobres mortais como nós não passamos de usuários, optantes, aficcionados, litigantes, querelantes, contribuintes, circunscritos, separados, beneficiários, convocados, confrades, correligionários, pensionistas, cooperativados, sindicalistas, sem-terra, sem-teto e vai por aí.
Ora, apesar disso tudo, somos apenas gente. Nosso nome mesmo, o do batismo, não importa muito. Até porque eles sempre acabam sendo bem mais felizes que nós.
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